quarta-feira, 4 de março de 2020

Conto: O Filho do Silva - Parte 07

Parte 07 - (Continuação)
-Por Rodrigo 'cC"-

Saio vou em direção ao Fliperama, tiro o Opala diplomata para fora, aperto o play no toca fitas e entra essa musica...
Música:Eu Me Amo - ultraje a Rigor
Começo a organizar toda a bagunça que já tinha mais de mês, após minha festa. Durante a limpeza chega na porta a amiga da Gaúcha, pergunto a ela da Gaúcha e a amiga responde: - Deixa ela em paz tu não é para ela, tu é pobre, ela de berço. Tu nada tem a somar com ela, ninguém vive de amor, acorda, se coloca em seu lugar, nem amigos nem família quer tu perto siga seu caminho, pise nos espinhos de ser quem é. Dá uma risada e sai.
Entro em desespero, sinto nojo de mim mesmo: --- Imagina!!! A Gaúcha tem vergonha de mim!! Vou deixar ela em paz e nunca mais vou chegar perto, a não ser que precise que eu a defenda dessa vida cruel.
Nesse instante chega a Paraguaia, pega a mangueira, vou esfregando o chão.
Ela me pergunta: - O que vai fazer?
Respondo: - No momento minha vontade é morrer.
Ela silencia-se, sinto sua preocupação no ar, mas também sei que me conhece e me respeita com seu silencio.
Minha Mãe pede para me chamar em uma conversa. Eu vou e ela pede que eu apenas escute e diz: - Filho, o amor próprio deve vir antes  de amar alguém, é o que realmente pode lhe fortalecer, você deve ser forte ao enfrentar a escolha e o sofrer. -O tempo vai passar e de novo você terá vontade de viver, se torturar será o que te fará de fato morrer. - Cada dia é um dia, uma nova chance e a página devemos escrever, pois cada dia tem a nos ensinar, dar e tirar e a vida não vai parar e se você não se amar, a vida passará num desperdício meu filho.
No fundo ninguém de fato sabia como eu me sentia, o que na minha mente passava. Resolvi o silencio, parei de dizer de mim, fugi com meus pensamentos e comigo mesmo, guardei meus segredos, de fato ninguém esta nem aí com o que me feriu por dentro.

Começo a tocar o Fliperama como fazia quando eu estava revoltado que eu pegava a enxada e saia carpindo no tráfico. Entrou uma Argentina mandada pelo pai da Paraguaia guria do diabo, com ela não havia perdão, era vacilo na atitude e corpo no chão. Não nos dávamos bem, ela me diminuía  por negar o poder e ter um bom coração, o Patrão no presídio do Áhu, meu lado da vila do mesmo jeito, continuo o trabalho social com o dinheiro do tráfico, mas isso me incomodava pensava um jeito de mudar isso e parar, pensar sempre uma boa musica qual me acompanha os dias, as noites a vida.
Liguei o rádio no Fliperama e ouço essa musica...
Musica:Blue Mondey - New Order blue mondey)
Começo a dançar entre a espumas, apenas de bermuda, sem camiseta vejo no sobrado novo da rua a vizinha nova a me olhar. Desceu a sacada do sobrado, pelo muro veio em minha direção e disse assim: - Me ensina a dançar?
Respondo: Ensino sim!  Ali mesmo começamos.
A Japa nova vizinha se empolga, me ajuda na limpeza, os olhos da Paraguaia em brasa, sou livre e não a o que faça.
O dia passa, tudo em ordem, chamo a Japa para dar um rolê. Vou na tia dos doces, na tia dos salgados, na distribuidora e deixo tudo encaminhado para reabrir o Fliperama.
Chego em casa e percebo que a Japa era tudo que precisava, uma garota qual começaria uma relação do zero, sem se importar com quem é o "Filho do Silva."

No outro dia, um sábado minha mãe sem diárias a fazer, minha irmã de folga da escola, fomos ao meu terreno na vila, mudas de pêssego, amora, goiaba, uvaia, laranja, mimosa, jabuticaba e uma araucária. Brincamos de imaginar como a casa seria.

Me apaixonei na hora pela mana da Japa qual tinha síndrome de down. A Japa me explicou o quanto sua Mana é sensível e que seu cuidado precisa muito da energia do amor que a Mana da atenção aos verdadeiros com ela e ao perceber isso tomou postura de mãe de sua Mana. Me abaixei com minha irmã e a Mana e plantamos a araucária,  enquanto as meninas brincavam, eu carpia e minha mãe juntava  e a Japa a dar atenção às meninas, a bagunça no monte de areia como se aquele morrinho de areia fosse o mundo todo a ser descoberto em aventuras, faz de conta e em risos de alegria vamos para casa almoçar.
A Paraguaia de ciúmes ao rosto e de coração bom se envolveu com a minha irmã e a Mana a tomar banho de mangueira. Me envolvo a fazer o almoço, arroz, bacon, milho, ovo cozido, palmito e queijo por cima e uns minutos de forno, almoçamos. Percebo o valor do amor da Japa e paciência ao dar comida a Mana. Terminamos de almoçar e já fui lavar as louças. As meninas assistindo" Alf o Eteimoso," a Japa e as mulheres na rede, largadas na varanda, toca essa musica...
Amantes e Amigos - João mineiro e Marciano)
A Paraguaia se levanta revoltada pega sua Mercedes Bens e diz: -Estou indo para casa!
Se aproxima de minha mãe e diz: - Fica em minha casa o tempo que quiser, logo volto estou com saudade do colo da mãe e ciúmes do seu filho e está doendo. - Quero sair daqui!
Abre o portão, me chama, me entrega as duas pistolas e diz: - Se cuida, logo estou de volta e fica de olho nessa Argentina.
Eu respondo: - Não sou do tráfico.
Ela diz: - Tem certeza? De onde vem o dinheiro para sua caridade?
Eu me calo. Volto para dentro de casa esmurrar o travesseiro e assim cada vez mais entendo que o amor próprio é o que mais devemos ter na vida, que é bom e equilibra, que por mais que alguém me ame e não me aceita como sou ou como faço as coisas, que depender de alguém é ter algo a ser jogado na cara  no primeiro momento que a pessoa se desagrada.
Chega minha irmã no quarto, deita no chão sobre seu companheiro cobertor, olho e penso o cobertor abençoado que protege e fica calado. Minha irmã diz: Tenho lição, preciso de sua ajuda.
Assim vamos pintar uma borboleta e ela indecisa com a cor, pois gosta de todas, eu me vejo sendo obrigado a crescer rápido. Os piás de minha idade solta pipa, joga bola, corre pela rua...
Volto a atenção a minha irmã e com muita calma a ensino a pintar sem borrar sua borboleta de todas as cores da caixa doze cores da Faber Castell. Terminamos a lição, fomos para frente da televisão assistir o Mundo Encantado de Boby. Ali caímos no sono abraçados.
Acordei e fui para a cozinha, abri a geladeira peguei o leite para o quick de minha irmã e vejo a nossa foto dormindo que a mãe tirou na polaroide da Paraguaia que deve estar rasgando em alta velocidade a BR277.

Por sua vez a Paraguaia em sua  Mercedes Bens ao limite, lágrimas nos olhos, sem entender o porque amar alguém que nem a enxerga como sua, nem o bem que eu faço a ele, que me sacrifico, até matei para que sua alma continuasse doce e limpa... Toca essa Musica
Musica:Words Don't Come Easy -  F.R. David
Seu coração acalma as lágrimas que não se cansam de escorrer pelo seu amor, tira o pé do acelerador e ao chegar em casa corre para os braços de sua mãe e ali se abriga  e de sua mãe escuta: - Filha se ame mais que tudo, pois as vezes o que desejamos não é para ser e temos que entender e aceitar. Quando de fato amamos se for para fazer mal deixe que vá, pois se amar vai querer ele feliz.
A filha diz: - Mas quem vai proteger ele? Você sabe que se deixá-lo solto a vontade no mundo ele vai se perder e com sua inocência é capaz de morrer. - Vou proteger meu amor, nem que custe minha vida!

Eu na vila em uma relação amiga com a Japa parceira para tudo nesses últimos dias. Ela teve a ideia de colocar um karaokê na Fliperama e assim fiz. Na sexta-feira seria a inauguração.
Ao chegar a Japa na hora de inaugurar me disse: - Nunca ame ninguém mais que a si mesmo, pois esse alguém pode tirar você de si e colocar alguém ai dentro que tu nunca reconhecerá.
Peguei o microfone e cantei a primeira música
Musica: Every Rose Has it's Thorn- Poison
Todos se encantam com a dança da Japa que havia aprendido comigo. Terminada a música nos tocamos nos olhos, embalamos no vinho delicioso da Colônia de nossa cidade, a festa numa paz só,  já amanhecendo todos vão embora.
Fui acender um "enrolado" no quarto dos fundos do Fliperama, sentei no sofá, a Japa tomou o "enrolado"de minha mão e disse: - Vou cuidar de você. Chega de fazer bobagens.
Dou a ela um sorriso, vamos para o colchão no chão, deitamos ficamos rindo caímos no sono sem intenção de se tocar.
Na madrugada esfria os corpos quentes se tocam, um abraço...
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👉(continua na parte 08)
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