quinta-feira, 5 de março de 2020

Conto: O Filho do Silva - Parte 03

Parte 03 - (Continuação)
-Por Rodrigo 'cC'-

Diz o Patrão: - Piá do Silva admiro sua atitude. Sacrificar a alma a vida pela sua família, mas o  que sua mãe vai achar?? O que seu pai acharia??
Responde o Piá do Silva: - Antes me responde. O que é se prostituir?
Diz o patrão: - É vender o corpo por "grana" por algum motivo!!
Diz o Piá do Silva: - É isso que vi sua irmã convidando minha mãe a fazer para poder pagar as contas! - Eu quero evitar isso e com minha mãe deixa que eu falo, pra debaixo da ponte minha irmã não vai e nem minha mãe se prostituir..
Diz o patrão: - Então volta aqui com uma resposta que lhe darei a minha!!
Chega a mãe e entra na conversa, pois nada havia no armário, na geladeira, nem grana para luz e água só a do aluguel. Minha mãe disse: -Não!!
Eu respondi que iria do mesmo jeito e saio. Vou em direção ao patrão e assim que viro a esquina vejo o Opala Diplomata parado no fliperama, sigo em sua direção. Quando me aproximo chega uma guria linda em seu Scort XR3 ouvindo essa musica..
Musica:Revolução Por Minuto - RPM
 Então ela desce do carro falando enrolado e assim que me aproximei na educação em silêncio o patrão falou: - Piá do Silva está com fome. Grita para a "tia" do fliperama: - Faz dois xsaladas e traga duas garrafas de Coca-Cola pro Piá.
E pergunta: - E dai Piá? O que sua mãe falou?
Eu digo: - Ela não quer, mas não tem jeito se alguém vai se sacrificar que seja eu.
Diz o patrão: Então vai trabalhar para o patrão da vila?
Eu respondo: - Vou.
Patrão diz: - Se alimenta, leva o outro para sua irmã. Passa no material de construção e diz que mandei pegar uma enxada, um rastelo e um carrinho de mão e vem aqui.
Assim fiz, sem questionar nada.
Ao voltar com tudo que foi pedido, o patão fala assim: -Então vai carpir a frente desses lotes que lhe dou o dinheiro para sair desse sufoco.
E me olha dizendo: -Vai fazer ou não?
Na hora fui. Aprendi a carpir com meu Pai no quintal e horta de casa. Ali passei dez dias, limpei a frente de todas as casas da rua. Minha mãe passava orgulhosa, minha irmã a brincar ao meu lado. Ali mesmo fazia minha lição. Todos os dias chegava Coca-Cola e marmita.

Enquanto isso os piás da correria passava por mim, riam, mas o patrão me respeitando ao máximo.
A guria linda do Scort XR3 presenteou a mim e minha irmã com diversidades, toda vez que chegava do Paraguai os próprios vizinhos ao ver minha atitude, me deram trabalho. Limpava quintais,  caixa d'água, fazia hortas, me virava, fui ficando conhecido como o Piá do Silva.
O Patrão contou de meu pai várias coisas positivas. Dizia de seu talento com passinhos, do amor pela minha mãe, que ele jogava um futebol arte e várias pessoas me contavam algo. Meu pai era muito querido e em um momento na conversa o patrão diz: - Piá do Silva tu quer cuidar do Fliperama?- A "Tia" voltou para o norte. Rapidamente a guria linda já me pegou pela mão e me levou para cozinha. Me ensinou a fazer todos os X's, ligou o três em um e toca essa musica:
Musica: Ace Of Base -The Sign
Cheguei em casa faceiro, possuo conta em todos os comércios se eu quiser é só pegar que o patrão paga. Vivo levando cesta básica e remédios a quem precisa na vila, se alguém precisar de emprestar dinheiro a algo de fato sério é comigo, o pagamento também é comigo tudo no balcão do Fliperama. Tenho total confiança do patrão. Não me envolvo na parte do tráfico, para isso tem o Polaco, um piá ruim que cresceu comigo, mas hoje para mim é claro que não gosta nem um pouco de me ver aqui com autoridade no Fliperama qual não passa mais nada do tráfico e ele esta lá, isolado num canto da vila com sua correria.
O Fliperama é o fervo na vila, sorvete, espetinho, cerveja, caldo de cana, refrigerante, pebolim, sinuca e a Vila está se dividindo: um lado bom e social cuidado por mim e um lado de poder, o do tráfico. Dois piás lado a lado ao mesmo "Patrão" na mesma vila, de visões distintas. Um corajoso, cruel, audacioso, o outro um bondoso.
O "Patrão" nascido na vila qual o único crime era seu tráfico, pois ninguém roubava, matava ou estuprava, corre o respeito modelado a anos noventa, pós ditadura, um salto a liberdade e diversidade, primeiros passos pós, era preconceito, um novo Brasil, um novo momento onde os gritos de liberdade, o rock'n'roll era muito forte, a chegada da musica falada na força do rap, as primeiras reboladas com as letras de entrelinhas do axé, o real com poder de compra a diversidade vinda do Paraguai. Época de festas nas casas, na vila muitos passinhos.
 Um mil novecentos e noventa e sete (1997) dia de meu aniversário. Festa no Fliperama, hoje sem jogos, salão livre, strobo no teto, luzes coloridas e esse som rolando
Musica: I Miss Her - Olodum
Festa bombando, galera dançando, até na rua as meninas lado a lado no rebolado pós ditadura, festa onde a polícia passava e só olhava sem guerra, sem nada. A vila controlada por um "Patrão" forte na ideia, eu de corpo leve no embalo do som a lua gigante no céu, eu viajando na minha brisa e olho a frente no mais belo movimento o corpo da mais bela, a gaúcha prenda linda loira, em um vestido simples branco e eu todo largado, de havaianas no pé, bermuda jeans rasgada, sem camiseta, cabelo surfista. Nem tráfico tinha na vila nesse dia, nada estragaria essa noite, mas o "Piá Ruim" chegou para pegar a prenda pelo braço, ela se assustou, não quis ir. Eu "capotei" o sem noção, que já tinha mágoa, não éramos amigos. Ali nasceu a guerra na vila, o "Piá Ruim" de rosto sangrando, pois apanhou, mas deu as suas também, me machucou. Levantou-se e saiu da festa o "Patrão" me olhou e disse: - Vamos atrás para levar essa ideia, não quero maldade entre os dois.
Assim foi feito, mas nenhum ali de fato deu ouvido ao "Patrão" uma hora iria rolar e o Piá Ruim iria cobrar.
Chega a guria linda em seu Scort XR3 e me leva dar uma volta e explica a gravidade da briga, dizendo que posso morrer, que devo matar o Piá Ruim que guerra é perigosa, que tenho uma irmã na vila, que da traição ninguém se livra é preciso tomar cuidado. Fomos ao centro de Curitiba, sentamos no Largo da Ordem em frente ao Relógio das Flores.
Fiquei pensando:---Nunca entrei no crime, nunca matei ou roubei e agora estou nessa guerra. --- Sei que o Piá Ruim não gosta de mim, humilhei ele que se achava o terrorista da vila, mas que foi bom, foi calar a boca daquele "loque" que me irritava ver ele diminuindo a piazada, desrespeitando as meninas, mas agora já era ou mato ou morro.
Voltei para a vila e dou de cara com a mãe no portão, entrei e conversei com ela que se preocupa, eu sinto o medo dela que eu morra e isso me pressiona mais a matar o Piá ruim.
Enquanto isso de sangue nos olhos chorava em sua casa na vila de tanto ódio que sentiu, mas era "cobra criada," sabia que tinha de ser na surdina para matar o Piá do Silva e ao ligar o rádio em casa a pensar, olhando em minhas mãos, as duas Pistola 380 dada pela guria linda a Paraguaia vem na mente a imagem da gaúcha.... vem a musica
Musica:Tente Outra Vez - Raul Seixas
Saio de casa, minha mãe se assusta ao me ver com as pistolas. Vou até a casa do Piá Ruim, chamo no portão, ele já vem de revolver mãos na cintura e de boa pergunto: - E aí qual vai rolar? -Paz ou guerra? - Sabe que não nos gostamos, mas defendemos a mesma vila, cada um de um jeito. -Não quero guerra, mas se for, que seja já.
O Piá Ruim saca o revolver,  puxo as pistolas...
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👉(Continuação parte 04)
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