O Filho do Silva - Parte I
(Por Rodrigo 'cC')
Paraná...
Sete dias antes do
assassinato de meu pai, ele havia pegado sua maior obra. Ele estava construindo
o supermercado da vila, ganhando um bom dinheiro. Eu de kichute que era só
alegria, uniforme novo. Ele comprou uma geladeira que não tínhamos, a casa era
humilde, mas não faltava alegria e música. Meu pai tinha um toca fitas, ele
gravava suas músicas do rádio -- play, rec, solta o pause e era um sorriso de
rosto inteiro. Minha mãe no fogão
cantando junto ao rádio essa musica.
Musica: Think about the way - Ice Mc
O cheiro do sagrado alimento, minha pequena arteira irmã que
adorava dançar os passinhos lado a lado, no pai, na mãe.
Naquela semana eu saia da escola e ia direto à obra com o
meu pai, ele nunca havia trabalhado perto de casa e ir ao trabalho dele era um
sonho, pois eu ficava só a imaginar, quando nas conversas a mesa ele falava de
seu dia pra mãe e a mãe contava o dela e eu e minha irmã fazíamos o mesmo.
Eu me sentia protegido perto do pai e sempre após o jantar
brincava, assistia o jornal qual era o momento onde o pai não falava nada e nem
gostava que falasse, depois vinha a novela, ai quem não queria que falasse era
a mãe.
Na obra queria ver o
pai trabalhar, ele estava fazendo a fundação e me ensinou esquadro, tudo sobre
a mistura da massa, tudo que ele fazia falava: - Ó Filho, é assim! Eu ali
comendo marmita, tudo muito legal. Eu sentava num tijolo, o pai trabalhando, eu
fazendo a lição da escola, pois meu pai nessa semana contou que onde ele morava
quando criança, nem escola havia. Com dez anos estava na colheita de algodão e
teve uma chance de vir a capital na casa de um primo e já arrumou emprego de
servente de pedreiro com seu primo. Então um somou com o outro compartilhando
as contas e assim deu para ficar na capital. No primeiro baile, se apaixonou
pela musica e pela minha mãe, os olhos dele brilhavam.
Eu estudava e prestava atenção na professora, pois meu pai e
mãe não sabiam me ajudar nas lições de casa.
Eu não podia perder uma palavra sequer e se tinha alguma dúvida, pedia
ajuda para professora.
Certo dia eu me senti mal, mas eu não sabia que meus pais eram
analfabetos, então pedi ajuda na lição ao meu pai e pela primeira vez vi uma
lágrima nos olhos dele, aí quis estudar mais e mais, pois um dia eu vou ensinar
para ele.
Naquela semana em especial não tinha o silêncio do jornal do
pai, nem da novela da mãe, pois estava meu pai e os amigos da dança ensaiando.
Iria ter um concurso de passinhos e toca essa música e alegria naqueles
sorrisos. Uns cantavam junto ao toca fitas.
Musica: Rap do Solitário - Mc Marcinho
Uma das Moças perguntou para minha mãe se ela não tinha
ciúmes. Minha mãe respondeu: - Não. Eu tenho é Amor e onde tem Amor não tem
dor, não tem traição.
Meu pai do grupo era o único casado, o resto era largado no
mundo, mas entre o pai e a mãe não tinha desperdício de vida, eles namoravam e
brincavam, aceitavam a vida como ela é. Eu nunca vi meu pai erguer a voz ou a
mãe. Nunca vi eles brigarem e sim entrar no quarto e conversar e quando um
estava errado nem teimava. Eles nos ensinaram a aceitar o erro, pois quem não
admite o erro discute ele e discussão é feio, deixa nervoso à toa, se machuca.
O Pai disse que tem que respeitar a mulher que ama e se fazer respeitar, mas
não com agressão, mas na moral construída, não nas palavras, mas na atitude,
pois a atitude tem que correr lado a lado com a palavra, senão sou mentira. Meu
Pai disse que quem mente brilha por pouco tempo e quem é verdade fica intacto
ao longo do tempo.
Minha mãe era diarista, quase tudo que tínhamos em casa era
doação e éramos gratos de bom coração. A Mãe dizia que a gratidão do obrigado
sincero não há o que pague e era só acordar cedinho, entrar no quarto da mãe e
ela estar agradecendo e pedindo proteção ao dia que vem vindo ao minuto depois.
Ela toda palhaça na mesa com seu café e cigarro acelerando
eu e minha irmã pra ir pra aula. No rádio essa musica
Musica: Purple Rain - Prince
Meu pai na alegria, hoje seria o dia do concurso de passinho.
Na volta da aula passei na obra meu pai bem maluco
assentando tijolos, dançando e cantando. Parou pra almoçar e surpresa!! Eu nunca
tinha comido X salada, meu Deus !! Que delícia!! Nem imaginava que era tão bom,
só imaginava “-- Um dia vou ter dinheiro e comer --“ Foi muita alegria.
Na conversa de hoje o pai me explicava o valor do trabalho,
a importância de ser um Homem correto, colher bons frutos, ser respeitado como
uma pessoa de bem e foi dito e por mim gravado, pois nem mamadeira da minha
irmã eu deixava meus pais fazer, nem arrumar cama nem lavar o meu copo e prato.
Eu amo e quero ver bem, então os poupo de qualquer incomodo, nunca quero ver
meu pai e minha mãe tristes comigo e assim cuido da minha Irmã para que nada a
aconteça, pra não preocupar o pai e a mãe.
No meio da tarde fomos para casa hoje era um dia encantado,
minha menor nota no semestre foi oitenta e cinco, ia ter churrasco caipira de
groselha e menta. Eles iam dar uma
ensaiada, pois era véspera do concurso do baile e toca a musica que vão dançar.
Vi claramente quatro pessoas felizes lado a lado no passo,
na sincronia, naquela pequena cozinha. Na porta o cachorro esperando o osso
entre as pernas dos passos ensaiados, pequenas meninas passando com as bonecas
nas mãos e na mão do piazinho um caminhão que ao som da sua voz fazia o ronco
do motor, uma carteira de cigarros e um isqueiro de carga, pois seu caminhão
era tombeira .
Em minha casa eu nunca tinha visto tanta fartura, meu pai em
brilho de alegria toda hora namorando minha mãe com os olhos, risadas ecoavam e
de fundo a música. Eu nunca havia dormido tão tarde, nem eu e minha irmã
faltado a aula, nem meu pai e minha mãe ao serviço.
Acordamos os quatro largados na cama, uma preguiça, mas
levantamos, nos ajudamos, arrumamos a bagunça, colocamos nossa melhor roupa e
fomos pra cidade e pra minha surpresa meu pai havia visto o brilho nos meus
olhos ao ver uma bicicleta passar. Ele me presenteou com uma Caloi Cross e
minha irmã com uma Ceci. Fomos num restaurante almoçar e na mesa meu pai dizia
que nossa vida iria mudar, pois havia pegado outra grande obra e que iria
seguir esse caminho do bem que juntos construíram, onde não existe traição e ninguém
subtrai e sim compartilha a vida, as dificuldades e alegrias.
Ele então deu um dinheiro pra mãe fazer o que quisesse. Saímos
dali os quatro de mãos dadas, fomos ao fliperama o Atari já era incrível, mas
ali era o paraíso. A mãe e a mana saíram fazer compras.
A tarde fizemos outro lanche, mas dessa vez eu já conhecia o
gosto do X salada e agora vou experimenta outro X. O X bacon, tem tantos X que
vai demorar um pouco, mas que vou experimentar todos!! Eu vou!!
Voltamos para casa. Que delícia andar de ônibus. Na hora que
chegar à vila vou puxar a cordinha para o ônibus parar, vai ser muito legal!!!
Assim fiz.
Chegando à vila a noite, todo mundo cumprimenta o pai, brinca
com ele desde o padre ao bandido. Ao entrar em casa minha irmã diz: - Que calor!!
Meu pai abre a geladeira nova e diz: Então se refresca, dois pote um pra cada.
Não precisávamos mais de bombril na ponta da antena da
televisão, tínhamos antena externa. Meu pai foi tomar banho, a mãe tirou da
sacola uma roupa a cara do Pai. Eu perguntei: - Mãe a senhora está ganhando
mais? Ela disse: - Não. Esse foi o dinheiro que seu pai me deu pra comprar meu
presente. Então comprei para ele, mas não conta nada.
Eu corro abraço ela e ela diz: - Amo seu pai, não sei viver
um dia sem o ele.
Quando ele sai do
banho vê a roupa, abre o sorriso, chega em minha mãe lhe dá um beijo e agradece.
Se veste fica lindão para ir ao concurso de passinho, nos beija a testa, beija
a mãe, se despede com o sorriso mais lindo que ele já deu e o eu te amo mais
tocante e sai olhando para sua família feliz.
- Mãe, mãeeeeee, mãeeeeeeeeee!!!
- Fala, fala o que aconteceu por favor que cara é essa? -Não me assusta meu filho.
- Mataram o pai mãe!!.
...
(👉Continua na parte 02)
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- Fala, fala o que aconteceu por favor que cara é essa? -Não me assusta meu filho.
- Mataram o pai mãe!!.
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