quinta-feira, 5 de março de 2020

Conto: O Filho do Silva - Parte 02

 Parte 02  - (Continuação)
-Por Rodrigo 'cC-

Minha mãe ajoelhada, sem reação, senão olhos parados e verter a triste água.
Sigo em direção a minha Irmã, a seguro no colo, pois chora triste com a mãe sem nem saber ainda o porquê. Vou me roubar o direito a lágrima e de minha Irmã e mãe vou cuidar, vou em direção á mãe e sinto seu desespero, antes mesmo do abraço minha mãe pega minha irmã no abraço qual me junto e são três corações partidos. Enxugo as lágrimas que escorrem ao rosto da mãe e digo que se acalme, pois estou aqui e as protegerei. Ela de sorriso no rosto solta um som de afago que dizia: -- Te Amo-- contenho a lágrima e o nó na garganta.

Chegam os amigos do meu pai, minha mãe de olhar perdido, nem querendo saber o que aconteceu, pois não queria aceitar, mas seu amor foi vítima da maldade solta, de nome preconceito que nas mãos carregam armas e no coração o ódio de que o mundo não é de seu jeito sem um espelho pra olhar a si mesmo, olha, julga e condena os outros.
Mesmo em lágrimas a mãe diz: - Meu amor morreu por ser ele mesmo.
Eu sem entender o preconceito não fui longe à verdade, pois o imaginei um monstro, uma obra do diabo no chão. De repente um bom coração entra em nosso lar. Era o patrão da vila tirando o desespero do coração da mãe que não sabia onde e como enterraria o pai.

Já no final da tarde adentra nossa casa pela última vez, meu pai em um caixão. Amigos familiares solidários, de poucas palavras, noite de muitos abraços e minha mãe em uma cadeira, de olhar sem vida a seu amor já sem vida. Minha irmã pequena coloca suas mãos a beira do caixão e tenta se erguer pra olhar, eu a tomo em meu colo, ela toca o rosto do pai e diz: - Ele está dormindo, temos que levar ele para cama.  Eu digo: - Não, minha irmã esse sono do pai é para sempre. Ela me olha e sorri e diz: - Ê pai dorminhoco. Pediu-me para dar o mamá e levá-la pra cama e assim faço. Já deitada me pede seu urso de pelúcia e fala:- Canta uma música para eu dormir? Então eu canto sua musica preferida.
Musica: Ursinho Pimpão (A turma do Balão Mágico) 
De olhos quase fechando, o sono dominando minha irmã, de sua boca sai um “eu te amo,” seguido de um sorriso de olhos fechados e de rosto inteiro. Ali não me contenho e solto a lágrima presa, fico a fazer carinho nos cachos de anjinho dela que dorme sem nem perceber o que seria aquele sono profundo do pai.

Volto para sala da casa, seguro a mão de minha mãe largada na cadeira com sua outra mão a acariciar o rosto do corpo morto de meu pai na forma da despedida do tocar,  mas na lembrança de quem amamos, não morre e por ser amor nessa rica relação onde a pobreza era só dinheiro, por muitas só arroz e feijão e quatro corações que transbordavam emoções e agora na realidade, o enterro, um desespero, um corpo se indo, sem saber o motivo, efeito do preconceito, mas no que eu mesmo me pergunto: --- E agora? Como será meu mundo sem meu guia? Não! Não! Não!! Eu não importa. Preciso cuidar da mãe e da irmã.

A noite vem o dia passa, a alegria não adentra mais a porta, elogiando minha mãe e dizendo: -Humm... que cheirosa essa comida. Pegando-a num gira baixo alto. Minha pequena irmã cantarolando algo, a pipa jogada em cima da geladeira, a bola num canto. -- Quem vai brincar comigo? –Não, não, não, eu não importa, preciso cuidar dos meus amores e assim faço.
Levanto-me brincando, vou ensinando minha irmã as cores em desenhos de flores de todas as cores, enganando a tristeza com um pouco de alegria.
Minha mãe no sofá, a casa uma bagunça. Eu faço a mamadeira da minha irmã a coloco dormir e vou limpando a casa, eu preciso ajudar minha mãe e assim faço.
Olho para ela olhando o rádio toca fitas, num pensar liga, aperta o play e toca essa musica.
Musica: No dia em que eu saí de casa – (Zezé di Camargo e Luciano) 
Eu sem saber o que fazer, apenas a me comover com a minha mãe que me viu sendo forte, me abraçou e em silencio ficou. Eu sentia no peito e ouvia o coração dela bater e o eco da alma que dizia: ---Fica com Deus amor, no final do meu ciclo aqui no chão, vou a você. Nunca tive outro homem e nem terei, pra ti no eterno vou permanecer---.

Os dias passam, vou entendendo o efeito do dinheiro e vejo que minha mãe precisa de ajuda. Falta tudo dentro de casa, minha irmã precisa do seu leite, andar bem vestida.
Sai em busca de trabalho, pois aprendeu com seu pai o valor do trabalho, mas é apenas uma criança e não consegue nada mesmo que Implore e assim faz. Implora a Deus e aos Homens trabalho e nada. Aprende sem seu pai o que é o desespero, sente o medo, mas não do maconheiro ou o velho do Saco e sim da fome, de não ter onde morar. Questiona o céu em gritos sem sair uma palavra da boca.  Injustiça! Injustiça! Injustiça! Nada mais quero que ajudar minha mãe no maldito dinheiro preciso pra vida. Como pode um mal tão grande estar na terra Deus? Ele tira a igualdade entre os homens, promove guerra, morte, diferença, ganância. Nascemos de igual pra igual, mas se temos ou não dinheiro, quem tem já esta longe da fome do sofrimento, da dor, mas quem não tem, conhece a fome, o frio, a dor. Como vou fazer?  Em desespero vai ao patrão da vila e diz que quer entrar no tráfico, que precisa ajudar sua mãe que não quer a fome, o frio e o medo. O patrão o olha, no Opala Diplomata toca essa musica.
Musica: Soldado do Morro - (MV Bill) 

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👉(Continuação na parte 03)
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