Meu Pai que disse!!
(Por Rodrigo 'cC')
Que ele ainda de cor parda foi capturado, pois se encantou pela sua pequena em uma gaiola e assim caiu em um alçapão e na tortura humana foi obrigado a sobreviver seus dias muito agressivo. Meu pai era de canto alto e dobrado, corricho continuo, leal a sua amada foi obrigado a lutar em rinhas.
Ele conta que havia um circulo, vários canários pendurados em suas gaiolas, nervosos grudados à grade, cantando muito alto, muita raiva havia neles, prontos a morrer ou a matar.
Ele continua a contar:..
Eu que era só minha amada na cabeça, cantei como nunca havia cantado, entre corrichos rodava ao fundo da gaiola pronto pra briga! Tinha de vencer para voltar a ver minha amada e assim fiz, pois ou era ele ou eu e foi pensando assim que me mantive vivo, eu na minha gaiola onde vivia com sua mãe, quando não me tiravam dela só pra ouvir meu canto alto e nervoso, dobrando, canto em cima de canto. Eu nunca entendi se eu canto solto pra que me prender.
Um dia eu vi a chance de fugir, sai pela porta, sua mãe trancada na parte menor da gaiola onde ficava a cumbuca de ninho, num duelo entre a razão e o coração sua mãe no cantar diz: -Vai! Vai, vai!! Então o dono percebeu que fugi, colocou um alçapão, eu com raiva.
Tinha um canário que vivia solto e sempre ia cantar e me desaforar. Voei no poste dei um pau nele, cantei em seu território, o humilhei e ele teve que ir embora, pois é assim na lei da natureza. O território é sagrado. Aí voltei pra gaiola por onde saí, nem entrei naquele alçapão e percebi que no outro dia a porta estava aberta, me fui, cantei , voltei pra gaiola e assim todos os criadores de canários de rinhas me queriam, eu ia nos torneios com minha amada. Agora abria a porta eu ia buscar os canários nas gaiolas, postes, árvores não tinha, virei lenda. Até que um dia num ciclo de estação tínhamos acabado de trocar as penas no verão, é chegada a hora de se alimentar muito, outono, logo chegará o inverno, frio de racha o bico.
Um gavião Piem muda-se para uma araucária próxima a casa onde morávamos na gaiola, eu tinha o privilégio de sair e voltar pra gaiola. Ali quem cantava alto era eu, numa dessas saídas fui provocar o Piem, ele ficou nervoso comigo, eu estava tirando capim de seu ninho, era o que eu queria, a raiva dele!!! Precisava desequilibra-lo e assim foi..
Chegou um dia que ele veio atrás de mim, eu no ar livre, não ia longe, fui em meio as árvores, casas e sentei em cima da gaiola, ele cego em ódio se choca com a gaiola que cai e livra sua mãe e assim voamos pra longe, mas muito longe! Sua mãe e eu e assim nos tornamos livres como Deus Pai e Mãe Natureza nos fez.
Vou te contar já filho: - O único ser que cria vagabundo é o humano, eu sou fiel, leal a sua mãe e a vocês, até aprenderem o que vim te passar em vida e depois “sai fora”, “se vira”. A ideia é assim: -Tu vai ter sua amada, vai trata-la no ninho enquanto choca seus filhos, se ela sair relaxa e se estica, tu vai enquanto ela não voltar, tratar seus filhos, ensinar a eles o que deve e vai passar seus dias com sua amada, protegê-la com sua vida, proteger seus filhos até que chegue o dia em que tu vai deixar que eles se vão, voar e cantar sua própria vida, fazer sua parte no equilíbrio preciso feito lá no início. Sua alma sobe, sua matéria desce e se manter vivo no eterno é com o gene, tu só se faz vivo no ensinamento.
Então já sabe né!! -Voa vai!! Logo deixará de ser pardo. Nos verões com suas trocas de penas o tornará amarelo, de cabeça laranja, e "fica a dica" a casa do João de barro e do bem-te-vi, não chove dentro.
-Nunca vá onde têm telhados, a comida ali sai caro. - Eu e sua mãe iremos tirar outra ninhada, já tem poucos Canários da Terra e da tempo ainda nessa primavera e que o bom da Criação lhe proteja, que o mau da Criação não lhe veja.
E assim voei em direção aquele sol se pondo da cor da coroa na cabeça de meu Pai alaranjada e assim atrás da luz fui..
(05/05/2019)