Ao plantamos a semente do amor no coração de alguém, logo vão despontando seus brotos. A alma e o coração agradecem, encantam e a cada dia vai crescendo e um certo dia em êxtase floresce, o jardim enfeita em forma de poema que atraí até abelhinha risonha em busca do mais puro mel.
Mesmo nos dias quando tudo escurece, vem tempestades violentas, a linda flor permanece lá, firme, forte sem esquecer que para cada tempestade e noites escuras solitária, existe o sol que está pronto para brilhar e trazer a luz necessária, ele não falha nunca, mesmo em dias de imensas nuvens escuras, lá está ele por detrás delas brilhando.
Na vida também muitas vezes o coração fica pesado, a noite parece interminável, os olhos inundados de lágrimas não permite enxergar e nem irradiar luz !! Dando impressão que irá sucumbir em meio a tantos problemas, tantas maldades, tanta dor e falta de amor.
Nesses momentos precisamos lembrar daquela sementinha que em nós foi plantada que enfrentou todas as fases desde as mais sombrias, até alcançar a luz, para então florescer e linda encantar e atrair aquela abelhinha que nunca a machucará, pois sem cobrar nada lhe fornece o mais doce mel.
Por isso precisamos ser firmes na fé, não desistir, encarar as obstáculos e procurar a luz que temos dentro de nós. Cessar as lamúrias e acreditar que tudo vai ficar bem, pois sem luta não se ganha a guerra e nem é digno do mel. Mesmo que muitas vezes antes de ganhar teremos que perder.
- Samantha Bennett -
Musica/Letra/Tradução: You’re Gonna Be Ok - Brian and Jenn Johnson 10/03/2020
Uma lua gigante, brilhante
Surge em minha janela
igual uma pintura em tela
Enorme, imponente, tão bela.
De repente...
nuvens negras se reúnem,
anunciando uma tempestade furiosa
obscurecendo essa luz gloriosa,
escondendo a luz da verdade
de quem ama seu resplendor,
que aprecia seu brilho, seu fervor.
Onde estás lua?
Que os oceanos
lamentam sua ausência,
o brilho de sua beleza
derramando como uma bênção
sobre as ondas com tanta singeleza,
deixando impaciente o coração.
Sete dias antes do
assassinato de meu pai, ele havia pegado sua maior obra. Ele estava construindo
o supermercado da vila, ganhando um bom dinheiro. Eu de kichute que era só
alegria, uniforme novo. Ele comprou uma geladeira que não tínhamos, a casa era
humilde, mas não faltava alegria e música. Meu pai tinha um toca fitas, ele
gravava suas músicas do rádio -- play, rec, solta o pause e era um sorriso de
rosto inteiro.Minha mãe no fogão
cantando junto ao rádio essa musica.
Musica: Think about the way - Ice Mc
O cheiro do sagrado alimento, minha pequena arteira irmã que
adorava dançar os passinhos lado a lado, no pai, na mãe.
Naquela semana eu saia da escola e ia direto à obra com o
meu pai, ele nunca havia trabalhado perto de casa e ir ao trabalho dele era um
sonho, pois eu ficava só a imaginar, quando nas conversas a mesa ele falava de
seu dia pra mãe e a mãe contava o dela e eu e minha irmã fazíamos o mesmo.
Eu me sentia protegido perto do pai e sempre após o jantar
brincava, assistia o jornal qual era o momento onde o pai não falava nada e nem
gostava que falasse, depois vinha a novela, ai quem não queria que falasse era
a mãe.
Na obra queria ver o
pai trabalhar, ele estava fazendo a fundação e me ensinou esquadro, tudo sobre
a mistura da massa, tudo que ele fazia falava: - Ó Filho, é assim! Eu ali
comendo marmita, tudo muito legal. Eu sentava num tijolo, o pai trabalhando, eu
fazendo a lição da escola, pois meu pai nessa semana contou que onde ele morava
quando criança, nem escola havia. Com dez anos estava na colheita de algodão e
teve uma chance de vir a capital na casa de um primo e já arrumou emprego de
servente de pedreiro com seu primo. Então um somou com o outro compartilhando
as contas e assim deu para ficar na capital. No primeiro baile, se apaixonou
pela musica e pela minha mãe, os olhos dele brilhavam.
Eu estudava e prestava atenção na professora, pois meu pai e
mãe não sabiam me ajudar nas lições de casa.Eu não podia perder uma palavra sequer e se tinha alguma dúvida, pedia
ajuda para professora.
Certo dia eu me senti mal, mas eu não sabia que meus pais eram
analfabetos, então pedi ajuda na lição ao meu pai e pela primeira vez vi uma
lágrima nos olhos dele, aí quis estudar mais e mais, pois um dia eu vou ensinar
para ele.
Naquela semana em especial não tinha o silêncio do jornal do
pai, nem da novela da mãe, pois estava meu pai e os amigos da dança ensaiando.
Iria ter um concurso de passinhos e toca essa música e alegria naqueles
sorrisos. Uns cantavam junto ao toca fitas.
Musica: Rap do Solitário - Mc Marcinho
Uma das Moças perguntou para minha mãe se ela não tinha
ciúmes. Minha mãe respondeu: - Não. Eu tenho é Amor e onde tem Amor não tem
dor, não tem traição.
Meu pai do grupo era o único casado, o resto era largado no
mundo, mas entre o pai e a mãe não tinha desperdício de vida, eles namoravam e
brincavam, aceitavam a vida como ela é. Eu nunca vi meu pai erguer a voz ou a
mãe. Nunca vi eles brigarem e sim entrar no quarto e conversar e quando um
estava errado nem teimava. Eles nos ensinaram a aceitar o erro, pois quem não
admite o erro discute ele e discussão é feio, deixa nervoso à toa, se machuca.
O Pai disse que tem que respeitar a mulher que ama e se fazer respeitar, mas
não com agressão, mas na moral construída, não nas palavras, mas na atitude,
pois a atitude tem que correr lado a lado com a palavra, senão sou mentira. Meu
Pai disse que quem mente brilha por pouco tempo e quem é verdade fica intacto
ao longo do tempo.
Minha mãe era diarista, quase tudo que tínhamos em casa era
doação e éramos gratos de bom coração. A Mãe dizia que a gratidão do obrigado
sincero não há o que pague e era só acordar cedinho, entrar no quarto da mãe e
ela estar agradecendo e pedindo proteção ao dia que vem vindo ao minuto depois.
Ela toda palhaça na mesa com seu café e cigarro acelerando
eu e minha irmã pra ir pra aula. No rádio essa musica
Musica: Purple Rain - Prince
Meu Pai sai do banho vem e toma minha mãe em seus braços a
beija, solta um bom dia Amor trás ela grudada a seu peito, deita a cabeça em
seu ombro e juntos em silencio de olhos fechados se deliciam a música e ao amor.
Meu Pai gosta de silêncio no jornal a mãe na novela, mas eu gostava do silêncio
para ver minha família enquanto o pai e a mãe dançavam. Minha irmã dançando com
o urso de pelúcia dela, eu deliciando meu café, pois hoje tinha leite, ficava
mergulhando o pão no copo e comendo lentamente, preguiçoso, muito cedo.
Meu pai na alegria, hoje seria o dia do concurso de passinho.
Na volta da aula passei na obra meu pai bem maluco
assentando tijolos, dançando e cantando. Parou pra almoçar e surpresa!! Eu nunca
tinha comido X salada, meu Deus !! Que delícia!! Nem imaginava que era tão bom,
só imaginava “-- Um dia vou ter dinheiro e comer --“ Foi muita alegria.
Na conversa de hoje o pai me explicava o valor do trabalho,
a importância de ser um Homem correto, colher bons frutos, ser respeitado como
uma pessoa de bem e foi dito e por mim gravado, pois nem mamadeira da minha
irmã eu deixava meus pais fazer, nem arrumar cama nem lavar o meu copo e prato.
Eu amo e quero ver bem, então os poupo de qualquer incomodo, nunca quero ver
meu pai e minha mãe tristes comigo e assim cuido da minha Irmã para que nada a
aconteça, pra não preocupar o pai e a mãe.
No meio da tarde fomos para casa hoje era um dia encantado,
minha menor nota no semestre foi oitenta e cinco, ia ter churrasco caipira de
groselha e menta. Eles iam dar uma
ensaiada, pois era véspera do concurso do baile e toca a musica que vão dançar.
Musica: The Silence - Enjoy
Vi claramente quatro pessoas felizes lado a lado no passo,
na sincronia, naquela pequena cozinha. Na porta o cachorro esperando o osso
entre as pernas dos passos ensaiados, pequenas meninas passando com as bonecas
nas mãos e na mão do piazinho um caminhão que ao som da sua voz fazia o ronco
do motor, uma carteira de cigarros e um isqueiro de carga, pois seu caminhão
era tombeira .
Em minha casa eu nunca tinha visto tanta fartura, meu pai em
brilho de alegria toda hora namorando minha mãe com os olhos, risadas ecoavam e
de fundo a música. Eu nunca havia dormido tão tarde, nem eu e minha irmã
faltado a aula, nem meu pai e minha mãe ao serviço.
Acordamos os quatro largados na cama, uma preguiça, mas
levantamos, nos ajudamos, arrumamos a bagunça, colocamos nossa melhor roupa e
fomos pra cidade e pra minha surpresa meu pai havia visto o brilho nos meus
olhos ao ver uma bicicleta passar. Ele me presenteou com uma Caloi Cross e
minha irmã com uma Ceci. Fomos num restaurante almoçar e na mesa meu pai dizia
que nossa vida iria mudar, pois havia pegado outra grande obra e que iria
seguir esse caminho do bem que juntos construíram, onde não existe traição e ninguém
subtrai e sim compartilha a vida, as dificuldades e alegrias.
Ele então deu um dinheiro pra mãe fazer o que quisesse. Saímos
dali os quatro de mãos dadas, fomos ao fliperama o Atari já era incrível, mas
ali era o paraíso. A mãe e a mana saíram fazer compras.
A tarde fizemos outro lanche, mas dessa vez eu já conhecia o
gosto do X salada e agora vou experimenta outro X. O X bacon, tem tantos X que
vai demorar um pouco, mas que vou experimentar todos!! Eu vou!!
Voltamos para casa. Que delícia andar de ônibus. Na hora que
chegar à vila vou puxar a cordinha para o ônibus parar, vai ser muito legal!!!
Assim fiz.
Chegando à vila a noite, todo mundo cumprimenta o pai, brinca
com ele desde o padre ao bandido. Ao entrar em casa minha irmã diz: - Que calor!!
Meu pai abre a geladeira nova e diz: Então se refresca, dois pote um pra cada.
Não precisávamos mais de bombril na ponta da antena da
televisão, tínhamos antena externa. Meu pai foi tomar banho, a mãe tirou da
sacola uma roupa a cara do Pai. Eu perguntei: - Mãe a senhora está ganhando
mais? Ela disse: - Não. Esse foi o dinheiro que seu pai me deu pra comprar meu
presente. Então comprei para ele, mas não conta nada.
Eu corro abraço ela e ela diz: - Amo seu pai, não sei viver
um dia sem o ele.
Quando ele sai do
banho vê a roupa, abre o sorriso, chega em minha mãe lhe dá um beijo e agradece.
Se veste fica lindão para ir ao concurso de passinho, nos beija a testa, beija
a mãe, se despede com o sorriso mais lindo que ele já deu e o eu te amo mais
tocante e sai olhando para sua família feliz.
Música: Era só mais um Silva - Mc Marcinho
- Mãe, mãeeeeee, mãeeeeeeeeee!!!
- Fala, fala o que aconteceu por favor que cara é essa? -Não me assusta meu filho.
- Mataram o pai mãe!!.
...
Minha mãe ajoelhada, sem reação, senão olhos parados e
verter a triste água.
Sigo em direção a minha Irmã, a seguro no colo, pois chora
triste com a mãe sem nem saber ainda o porquê. Vou me roubar o direito a lágrima e de minha Irmã e mãe vou cuidar, vou em direção á mãe e sinto seu
desespero, antes mesmo do abraço minha mãe pega minha irmã no abraço qual me
junto e são três corações partidos. Enxugo as lágrimas que escorrem ao rosto da
mãe e digo que se acalme, pois estou aqui e as protegerei. Ela de sorriso no
rosto solta um som de afago que dizia: -- Te Amo-- contenho a lágrima e o nó na
garganta.
Chegam os amigos do meu pai, minha mãe de olhar perdido, nem
querendo saber o que aconteceu, pois não queria aceitar, mas seu amor foi vítima
da maldade solta, de nome preconceito que nas mãos carregam armas e no coração
o ódio de que o mundo não é de seu jeito sem um espelho pra olhar a si mesmo,
olha, julga e condena os outros.
Mesmo em lágrimas a mãe diz: - Meu amor morreu por ser ele
mesmo.
Eu sem entender o preconceito não fui longe à verdade, pois
o imaginei um monstro, uma obra do diabo no chão. De repente um bom coração
entra em nosso lar. Era o patrão da vila tirando o desespero do coração da mãe
que não sabia onde e como enterraria o pai.
Já no final da tarde adentra nossa casa pela última vez, meu
pai em um caixão. Amigos familiares solidários, de poucas palavras, noite de
muitos abraços e minha mãe em uma cadeira, de olhar sem vida a seu amor já sem
vida. Minha irmã pequena coloca suas mãos a beira do caixão e tenta se erguer
pra olhar, eu a tomo em meu colo, ela toca o rosto do pai e diz: - Ele está
dormindo, temos que levar ele para cama. Eu digo: - Não, minha irmã esse sono do pai é
para sempre. Ela me olha e sorri e diz: - Ê pai dorminhoco. Pediu-me para dar o
mamá e levá-la pra cama e assim faço. Já deitada me pede seu urso de pelúcia e
fala:- Canta uma música para eu dormir? Então eu canto sua musica preferida.
Musica: Ursinho Pimpão (A turma do Balão Mágico)
De olhos quase fechando, o sono dominando minha irmã, de sua boca sai um “eu te amo,” seguido de um
sorriso de olhos fechados e de rosto inteiro. Ali não me contenho e solto a lágrima presa, fico a fazer carinho nos cachos de anjinho dela que
dorme sem nem perceber o que seria aquele sono profundo do pai.
Volto para sala da casa, seguro a mão de minha mãe largada na
cadeira com sua outra mão a acariciar o rosto do corpo morto de meu pai na
forma da despedida do tocar, mas na
lembrança de quem amamos, não morre e por ser amor nessa rica relação onde a
pobreza era só dinheiro, por muitas só arroz e feijão e quatro corações que
transbordavam emoções e agora na realidade, o enterro, um desespero, um corpo
se indo, sem saber o motivo, efeito do preconceito, mas no que eu mesmo me
pergunto: --- E agora? Como será meu mundo sem meu guia? Não! Não! Não!! Eu não
importa. Preciso cuidar da mãe e da irmã.
A noite vem o dia passa, a alegria não adentra mais a porta,
elogiando minha mãe e dizendo: -Humm... que cheirosa essa comida. Pegando-a num
gira baixo alto. Minha pequena irmã cantarolando algo, a pipa jogada em cima da
geladeira, a bola num canto. -- Quem vai brincar comigo? –Não, não, não, eu não
importa, preciso cuidar dos meus amores e assim faço.
Levanto-me brincando, vou ensinando minha irmã as cores em
desenhos de flores de todas as cores, enganando a tristeza com um pouco de
alegria.
Minha mãe no sofá, a casa uma bagunça. Eu faço a mamadeira
da minha irmã a coloco dormir e vou limpando a casa, eu preciso ajudar minha mãe
e assim faço.
Olho para ela olhando
o rádio toca fitas, num pensar liga, aperta o play e toca essa musica.
Musica: No dia em que eu saí de casa – (Zezé di Camargo e Luciano)
Eu sem saber o que fazer, apenas a me comover com a minha mãe
que me viu sendo forte, me abraçou e em silencio ficou. Eu sentia no peito e
ouvia o coração dela bater e o eco da alma que dizia: ---Fica com Deus amor, no
final do meu ciclo aqui no chão, vou a você. Nunca tive outro homem e nem terei,
pra ti no eterno vou permanecer---.
Os dias passam, vou entendendo o efeito do dinheiro e vejo
que minha mãe precisa de ajuda. Falta tudo dentro de casa, minha irmã precisa
do seu leite, andar bem vestida.
Sai em busca de trabalho, pois aprendeu com seu pai o valor
do trabalho, mas é apenas uma criança e não consegue nada mesmo que Implore e
assim faz. Implora a Deus e aos Homens trabalho e nada. Aprende sem seu pai o
que é o desespero, sente o medo, mas não do maconheiro ou o velho do Saco e sim
da fome, de não ter onde morar. Questiona o céu em gritos sem sair uma palavra
da boca. Injustiça! Injustiça! Injustiça!
Nada mais quero que ajudar minha mãe no maldito dinheiro preciso pra vida. Como
pode um mal tão grande estar na terra Deus? Ele tira a igualdade entre os homens,
promove guerra, morte, diferença, ganância. Nascemos de igual pra igual, mas se
temos ou não dinheiro, quem tem já esta longe da fome do sofrimento, da dor, mas
quem não tem, conhece a fome, o frio, a dor. Como vou fazer?Em desespero vai ao patrão da vila e diz que
quer entrar no tráfico, que precisa ajudar sua mãe que não quer a fome, o frio
e o medo. O patrão o olha, no Opala Diplomata toca essa musica.
Diz o Patrão: - Piá do Silva admiro sua atitude. Sacrificar a alma a
vida pela sua família, mas o que sua mãe vai achar?? O que seu pai
acharia??
Responde o Piá do Silva: - Antes me responde. O que é se prostituir?
Diz o patrão: - É vender o corpo por "grana" por algum motivo!!
Diz
o Piá do Silva: - É isso que vi sua irmã convidando minha mãe a fazer
para poder pagar as contas! - Eu quero evitar isso e com minha mãe deixa
que eu falo, pra debaixo da ponte minha irmã não vai e nem minha mãe se
prostituir..
Diz o patrão: - Então volta aqui com uma resposta que lhe darei a minha!!
Chega a mãe e entra na conversa, pois nada havia no armário,
na geladeira, nem grana para luz e água só a do aluguel. Minha mãe
disse: -Não!!
Eu respondi que iria do mesmo jeito e saio. Vou em
direção ao patrão e assim que viro a esquina vejo o Opala Diplomata
parado no fliperama, sigo em sua direção. Quando me aproximo chega uma
guria linda em seu Scort XR3 ouvindo essa musica..
Musica:Revolução Por Minuto - RPM
Então ela desce do carro falando enrolado e assim que me aproximei na educação em silêncio o patrão falou: - Piá do Silva
está com fome. Grita para a "tia" do fliperama: - Faz dois xsaladas e traga duas garrafas de Coca-Cola pro Piá.
E pergunta: - E dai Piá? O que sua mãe falou?
Eu digo: - Ela não quer, mas não tem jeito se alguém vai se sacrificar que seja eu.
Diz o patrão: Então vai trabalhar para o patrão da vila?
Eu respondo: - Vou.
Patrão
diz: - Se alimenta, leva o outro para sua irmã. Passa no material de
construção e diz que mandei pegar uma enxada, um rastelo e um carrinho
de mão e vem aqui.
Assim fiz, sem questionar nada.
Ao voltar
com tudo que foi pedido, o patão fala assim: -Então vai carpir a frente
desses lotes que lhe dou o dinheiro para sair desse sufoco.
E me olha dizendo: -Vai fazer ou não?
Na
hora fui. Aprendi a carpir com meu Pai no quintal e horta de casa. Ali
passei dez dias, limpei a frente de todas as casas da rua. Minha mãe
passava orgulhosa, minha irmã a brincar ao meu lado. Ali mesmo fazia
minha lição. Todos os dias chegava Coca-Cola e marmita.
Enquanto isso os piás da correria passava por mim, riam, mas o patrão me respeitando ao máximo.
A
guria linda do Scort XR3 presenteou a mim e minha irmã com
diversidades, toda vez que chegava do Paraguai os próprios vizinhos ao
ver minha atitude, me deram trabalho. Limpava quintais, caixa d'água,
fazia hortas, me virava, fui ficando conhecido como o Piá do Silva.
O
Patrão contou de meu pai várias coisas positivas. Dizia de seu talento
com passinhos, do amor pela minha mãe, que ele jogava um futebol arte e
várias pessoas me contavam algo. Meu pai era muito querido e em um
momento na conversa o patrão diz: - Piá do Silva tu quer cuidar do
Fliperama?- A "Tia" voltou para o norte. Rapidamente a guria linda já me
pegou pela mão e me levou para cozinha. Me ensinou a fazer todos os
X's, ligou o três em um e toca essa musica:
Musica: Ace Of Base -The Sign
Cheguei em casa faceiro, possuo conta em todos os comércios se eu
quiser é só pegar que o patrão paga. Vivo levando cesta básica e
remédios a quem precisa na vila, se alguém precisar de emprestar
dinheiro a algo de fato sério é comigo, o pagamento também é comigo tudo
no balcão do Fliperama. Tenho total confiança do patrão. Não me envolvo
na parte do tráfico, para isso tem o Polaco, um piá ruim que cresceu
comigo, mas hoje para mim é claro que não gosta nem um pouco de me ver
aqui com autoridade no Fliperama qual não passa mais nada do tráfico e
ele esta lá, isolado num canto da vila com sua correria.
O
Fliperama é o fervo na vila, sorvete, espetinho, cerveja, caldo de cana,
refrigerante, pebolim, sinuca e a Vila está se dividindo: um lado bom e
social cuidado por mim e um lado de poder, o do tráfico. Dois piás lado
a lado ao mesmo "Patrão" na mesma vila, de visões distintas. Um
corajoso, cruel, audacioso, o outro um bondoso.
O "Patrão" nascido
na vila qual o único crime era seu tráfico, pois ninguém roubava,
matava ou estuprava, corre o respeito modelado a anos noventa, pós
ditadura, um salto a liberdade e diversidade, primeiros passos pós, era
preconceito, um novo Brasil, um novo momento onde os gritos de
liberdade, o rock'n'roll era muito forte, a chegada da musica falada na
força do rap, as primeiras reboladas com as letras de entrelinhas do
axé, o real com poder de compra a diversidade vinda do Paraguai. Época
de festas nas casas, na vila muitos passinhos.
Um mil novecentos e
noventa e sete (1997) dia de meu aniversário. Festa no Fliperama, hoje
sem jogos, salão livre, strobo no teto, luzes coloridas e esse som
rolando
Musica: I Miss Her - Olodum
Festa bombando, galera dançando, até na rua as meninas lado a lado no
rebolado pós ditadura, festa onde a polícia passava e só olhava sem
guerra, sem nada. A vila controlada por um "Patrão" forte na ideia, eu
de corpo leve no embalo do som a lua gigante no céu, eu viajando na
minha brisa e olho a frente no mais belo movimento o corpo da mais bela,
a gaúcha prenda linda loira, em um vestido simples branco e eu todo
largado, de havaianas no pé, bermuda jeans rasgada, sem camiseta, cabelo
surfista. Nem tráfico tinha na vila nesse dia, nada estragaria essa
noite, mas o "Piá Ruim" chegou para pegar a prenda pelo braço, ela se
assustou, não quis ir. Eu "capotei" o sem noção, que já tinha mágoa, não
éramos amigos. Ali nasceu a guerra na vila, o "Piá Ruim" de rosto
sangrando, pois apanhou, mas deu as suas também, me machucou.
Levantou-se e saiu da festa o "Patrão" me olhou e disse: - Vamos atrás
para levar essa ideia, não quero maldade entre os dois.
Assim foi feito, mas nenhum ali de fato deu ouvido ao "Patrão" uma hora iria rolar e o Piá Ruim iria cobrar.
Chega
a guria linda em seu Scort XR3 e me leva dar uma volta e explica a
gravidade da briga, dizendo que posso morrer, que devo matar o Piá Ruim
que guerra é perigosa, que tenho uma irmã na vila, que da traição
ninguém se livra é preciso tomar cuidado. Fomos ao centro de
Curitiba, sentamos no Largo da Ordem em frente ao Relógio das Flores.
Fiquei
pensando:---Nunca entrei no crime, nunca matei ou roubei e agora estou
nessa guerra. --- Sei que o Piá Ruim não gosta de mim, humilhei ele que
se achava o terrorista da vila, mas que foi bom, foi calar a boca
daquele "loque" que me irritava ver ele diminuindo a piazada,
desrespeitando as meninas, mas agora já era ou mato ou morro.
Voltei
para a vila e dou de cara com a mãe no portão, entrei e conversei com
ela que se preocupa, eu sinto o medo dela que eu morra e isso me
pressiona mais a matar o Piá ruim.
Enquanto isso de sangue nos
olhos chorava em sua casa na vila de tanto ódio que sentiu, mas era
"cobra criada," sabia que tinha de ser na surdina para matar o Piá do
Silva e ao ligar o rádio em casa a pensar, olhando em minhas mãos, as
duas Pistola 380 dada pela guria linda a Paraguaia vem na mente a imagem
da gaúcha.... vem a musica
Musica:Tente Outra Vez - Raul Seixas
Saio de casa, minha mãe se assusta ao me ver com as pistolas. Vou até
a casa do Piá Ruim, chamo no portão, ele já vem de revolver mãos na cintura e de boa pergunto: - E aí qual vai rolar? -Paz ou guerra? -
Sabe que não nos gostamos, mas defendemos a mesma vila, cada um de um
jeito. -Não quero guerra, mas se for, que seja já.
O Piá Ruim saca o revolver, puxo as pistolas...
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