As pessoas da minha vida são todas que estiveram na minha
caminhada em algum momento, curva, descida, subida ou buraco. Elas tiveram
participação em cada pedra que fora colocada na minha frente e em cada sombra
projetada. Nem todas deveriam ter vindo e nem todas deveriam ter ido. Mas a
estrada é longa e a caminhada precisa continuar.
Pessoas e mais pessoas entrarão nas nossas vidas, mas nem
todas permanecerão. Os motivos serão os mais variados possíveis. Elas vão
aparecer de repente, vão levar a alma da gente e vão sumir para sempre. Vão
voltar por querer, vão ficar por merecer e vão partir sem entender. Podem nos
alegrar, nos machucar, nos acompanhar, nos guiar, amar, odiar, desejar ou
repudiar, mas todas terão sua migalha de importância, pois sempre vão nos
deixar alguma marca. Boa ou ruim.
As pessoas da minha vida não são as que mais amo ou apenas
as que continuam comigo, mas todas as que já passaram por mim, as que já
fizeram parte do meu mundo assídua ou esporadicamente, ainda que tenha sido de
mentira. Todas que eu permiti que caminhassem comigo, por menos passos que
tenham dado ao meu lado. Algumas, que pensei em definir como caroneiras, não
mereceram esses passos e essas eu deveria ter deixado para trás na primeira
curva ou chuva, ou na primeira rasteira que me deram, mas insisti em continuar,
fiz de conta que tinha escorregado sozinha. Poderia também ter deixado no chão
quando tropeçaram ou empurrado ladeira abaixo quando tive oportunidade. Não
fiz. Apenas deixei para trás. Mas mereciam.
Há gente de todo tipo caminhando ao nosso redor, na frente,
atrás, ao lado. Indo com a gente, pela gente, sem a gente. Quando falo de
tipos, incluo os andarilhos, são aquelas pessoas que fazem parte da minha
caminhada, mas não fazem nada. Não me puxam ou empurram, não me afagam ou
espancam, não me ajudam com meus pesos, nem me sobrecarregam com os seus ou dos
outros. Na verdade, elas pensam que não fazem nada. Pois quando estou
caminhando de noite no escuro e tenho medo, me basta saber que elas estão ali,
na mesma direção, mesmo que não estejam na mesma estrada. O medo passa.
No entanto, há aquelas que participam ativamente ao meu lado
até hoje, essas não defino. Elas não apenas caminham comigo, mas me guiam, me
orientam, ensinam, acodem quando entro em apuros, sacodem quando preciso
acordar, fazem cócegas quando preciso rir, me embebedam quando preciso chorar e
me ouvem quando preciso falar. Essas pessoas, indefiníveis, faço questão de
caminhar sempre junto. Nem que, para isso, eu tenha que esperá-las tomarem
fôlego na subida de uma ladeira ou segurar se a descida as descontrolar, ou dar
a mão para tirar de um buraco, ou correr um pouquinho para alcançá-las. Algumas
caminham tão depressa que, às vezes, as perco, mas não desisto delas, vou atrás
e acabo encontrando. Outras caminham a passos lentos, essas... Vou buscar. Mas
só as apresso se necessário. Têm aquelas que tentam pegar um atalho e acabam se
perdendo e não consigo mais encontrar. Outras ficam presas em encruzilhadas,
também já fiquei em algumas, então as ajudo a decidir a melhor direção. Muitas
se enveredam por caminhos que, para mim, não seriam felizes, mas se realizam e
vibro por elas.
As pessoas da minha vida me fizeram muito mal e muito bem,
todas elas em graus e épocas diferentes. Quantas apenas acenaram para mim, mas
não seguiram, quantas quiseram me seguir, mas eu corri o máximo que podia para
deixá-las para trás e quantas me foram tiradas à força? Algumas eu não gostaria
de ter perdido, mas elas acharam que seria melhor caminhar sem mim ou bem longe
de mim. Outras eu mesma afastei, foi melhor assim, acabariam me derrubando no
primeiro barranco. A maioria delas, eu encontro vez ou outra durante minha
caminhada, faço questão de parar, cumprimentar e seguir adiante.
Às vezes, prefiro caminhar sozinha, é sábio, estimula o
autoconhecimento e a gostar da própria companhia, todos deveriam fazer isso de
vez em quando. É inspirador.
O mais importante é que, sendo a caminhada longa ou curta,
difícil ou não, continuo apesar delas e por causa delas. Sabendo que muitas
ainda entrarão e sairão dessa minha estrada e muito ainda me farão.
(Por: Vanessa Lemos)