domingo, 24 de março de 2019

O Poder do Amor - Rodrigo 'cC'

Música: Heatseeker - AC/DC 

O Poder do Amor
(Rodrigo 'cC')

Curitiba Paraná 1993... 

Um role para testar o motor de Opala no Chevette 77, nós o chamávamos de “astucioso” era sonho de Piá desde os tempos do carrinho de rolimã nas decidas de nosso role mãe Colombo Paraná. 

Minha "barca" é extensão de meu corpo, a musica é quem gera a emoção, o ronco do motor é quem da adrenalina, mas o role é de boa. Passamos no Parque São Lourenço para andar de rolimã com meu primo sempre junto.

Desde pequeno nos tornamos complementação um do outro, eu mais malandro e ele cuidadoso, tímido e ainda virgem. As meninas ficavam doidas no Primo. Ele era mais novo que eu, mas eu gosto dele, desse jeito de se guardar para o amor verdade. 

Eu já estou sofrido, de coração partido, não entro em qualquer conversa, o sentimento é sim um lugar muito íntimo. Sou apreciador das mulheres, sei que elas gostam de atenção, de sentir sua voz de igual pra igual, elas precisam sentir o ciúme moderado para sentir o cuidado. Minha mente sempre foi aberta para perceber as pessoas, prestar atenção nelas, seu jeito, seu comportamento e converso mesmo, não tenho medo de chegar, gosto de flertar com os olhos, mas olhos sem vida não me interessam, sou egoísta, não tenho afeição à psicologia, quero saber de mim, não minto, nem prometo, mas tenho certo talento com as palavras e boas palavras abraçam, fazem sorrir e gargalhar até deixar as bochechas vermelhas e quentes e nesse meu jeito de ser, eu vivia muito bem. Não levava nada adiante, mesmo sabendo de quantas meninas maravilhosas cada uma com seu ponto atraente, ainda assim eu preferia fechar meu coração e olhar apenas para mim.
Meu Primo esperava o dia dele e em seu respeitoso silêncio havia um dançarino desinibido, um avesso a si mesmo. Decidimos passar no Shopping Mueller, centro de Curitiba. Ao entrar no Shopping descia um Del Rey conversível, os olhos de meu primo brilharam quando ele disse:- Tu viu aquela Princesa? Preciso conhecer ela! Olhei no retrovisor a placa era de Foz do Iguaçu, ele voltou me olhar e disse: - Eu vi nos olhos dela que ela é minha.- Eu dei uma olhada, dei um sorriso, estacionei o Chevette 77 ao lado de um Monza no qual a placa também era de Foz do Iguaçu. Surgiu uma espalhafatosa dizendo: - Seu tio já foi? Um Piá respondeu: - Claro! Olha a sua demora!  - Vamos logo, eles já devem estar na Ilha do Mel. 

Eu mais que ligeiro entrei no Shopping Mueller, saí lá na frente, atravessei a rua dei a volta na quadra e fui ao passeio Público, fiquei viajando nos animais, pirando com os macacos e meu primo viajando em sua Princesa. 
Atravessei a rua, fomos dar um role de roda gigante no Parque Alvorada, trem fantasma, carrinho bate-bate e meu Primo só na imaginação, criando sua vida com sua Princesa.
Era Carnaval eu não aguentava mais aqueles olhos de quem quer muito. Dei uma ficha telefônica a ele e pedi que avisasse em casa que iríamos para praia e assim ele fez.
Eu queria testar o motor de Opala seis "canecos" no Chevette 77. Passei na loja Mesbla, compramos umas bermudas, camisetas e descemos sentido a Ilha do Mel. Até chegar ao topo da serra na Br 277 sentido praia, fui de boa. Coloquei minha fita, equalizei o tojo, aumentei o volume, o carro e eu nos fundimos com a música,
Música: Nowhere Fast - Streets of Fire
o pé vai sentido assoalho, a mão ao cambio, curvas diversas, entre reduzidas, trocas habilidosas, uma ou outra a mão ao freio de mão, fazia o Chevette sem as rodas para fazer as curvas e entre fumaças surgia o astuto Chevette 77, nos retrovisores, carretas e movimento pouco. Já é meia noite, a lua em três dias irá sorrir. Ao terminar a descida da serra, retiro o pé do assoalho e seguimos viagem.
Chegamos a Pontal, entro no barco, olhando o Chevette 77 de coração apertado, fomos à procura da Princesa para dar um sentido à vida de meu Primo.
Diz ele que o mais belo Amor é o dos puros que desde cedo levam a vida juntos na ideia da verdade de o amor ser um só. Eu às vezes até sonho quando viajo em pensamento sozinho que talvez um dia o amor me encontre, pois eu ainda não sei sentir ele, por muitas nem mesmo por mim, então procurar o que?  Mas, vai que vai, barulho da "barca" da travessia, o sorriso de Piá faceiro no Primo e é essa mesmo a ideia:  a pessoa quem gostamos e não querer dizer, que isso que aquilo. Não temos esse direito né? Pra que? Se a vida já é um se vira louco e alma dia a dia pra mim não serve, eu me preservo.
Meu Primo então que não faz mal nem a ele. Eu já sou mais terrível um pouco e legal. –Ah! Como é bom ser livre, pensar. Que delicia ir e vir de pé ou de ponta cabeça. É assim que eu me sinto bem, nem adianta eu querer me envolver, a menina vai sofrer. Sou largadão demais para que me cuidem, nem pra minha mãe digo de mim, fujo de conversa séria e em casa com meu Pai não rola desde muito cedo. Sou assim. Meu Pai xucro, sem vergonha até com as cunhadas se der mole, minha mãe pilar, guerreira família. Minha irmã só de corpinho com os caras pra pagar faculdade, meio estranho, mas é assim.
Já na casa do Primo se é grato até a um copo de água, tipo outro mundo, a casa da avó, mesmas conversas, lembranças e comidas, mas é isso mesmo de todo tipo, cores e aparências. São as famílias que brigam e brincam.

Já na Ilha do Mel, meu Paraná encantado, enfim o chão e os dois sem barraca e nada além da alegria em um bolso e em outro dinheiro. Chego a uma pousada, eu já dei um jeito de ir pescar. Com meu jeito gentil e fácil de lidar, com aquela fome que a alegria causa.
Voltando da pescaria, encontro a tia espalhafatosa toda toda se achando, e podia, porque  naquele biquíni ela estava muito menina, mas a Princesa não estava junto dela. Eu mais que malandro desviei o caminho e vi onde eles estavam acampados, pois naquela hora eu estava até mais interessado na tia que meu Primo na Princesa.

Voltei a pousada, dominei a cozinha, nem falei nada ao meu Primo que ia rolar uma fervo no camping onde estava a Princesa e assim foi...
Na cozinha da pousada, eu a fazer peixe para todos que ali estavam, muita harmonia, a música "Daddy Cool" rolando e meu Primo em seus passinhos perfeitos com  graça em sua ginga. Ali me senti voltando no tempo, cheio de alegria e sorriso bobo acabei entrando dança. 
Jantamos. Eu no grau da cerveja, aquele toque simpático, ousado que fala, conversa e mais meu jeito. Quando me dei conta, nem sabia o nome da menina.

Saí da pousada e fui com meu Primo até sua surpresa envolta a Princesa e assim fomos.  Quando a Princesa viu meu Primo quase levitou em um sorriso, até eu que sou desprovido de sentimentos me comovi. Ali eu acreditei!! O amor existe!!!  Peguei uma cerveja, meu Primo um suco e cada gole que eu dava, mais cara de pau eu ficava. Já me envolvi, fiz amizades com as meninas de Maringá que ali estavam, "deram ideia" e eu fui brincando sorrindo, o carnaval rolando, apenas violão e percussão.

O Pai da Princesa com aquela cara de mal, mas logo percebi que era só cara, nem olhava pro lado. A Patroa devia ser da braba. 

Naquela noite a lua quase em sorriso, num momento de bebedeira do Pai que apagou dando a chance para o encontro. Iniciaram a conversa entre o Primo e a princesa com brilho nos olhos. 
A tia espalhafatosa me acompanhou, fomos ao mar. Lá fora os dois a namorar, olhando a lua, cena perfeita, enquanto eu sem vergonha, na segunda intenção com a tia e em meio as palavras, ela se sentiu a mais bela e desejada, aí foi o primeiro passo a fazê-la se sentir realizada. Assim ambos, no outro dia durante uma conversa, ela contou-me que a Princesa estava muito doente e que esse passeio veio para lhe realizar um desejo e que tudo esta indo mais lindo que o impossível. Então eu de coração apertado, nó na garganta de saber que a Princesa sofre "uns apagos” sem um porque e que por várias vezes sua vida correu e corre risco, mas como vou contar ao Primo isso tudo?  Resolvi não falar nada, apenas peguei o contato da tia, em Foz do Iguaçu.

Assim os dias foram passando, a Princesa era só alegria que até o Pai havia percebido e nesses dias eu
vi o amor, seu poder e fiquei tocado.

Voltamos a Colombo nossa cidade mãe. Eu com aquilo na cabeça sobre a saúde da Princesa e o que eu vi o amor fazer. Então liguei para a tia espalhafatosa e ela contou-me o quanto a Princesa melhorou, que não havia tido mais aqueles "apagos" ou ficado por segundos sem respirar e na graça do Anjo sempre volta, mas deixa o medo de que não volte, a medicina não consegue explicar.
Peguei meu Primo fomos pra Foz do Iguaçu, ficamos na casa da tia espalhafatosa e ali em cada passo, de mãos dadas, naquelas cenas tão belas dos passeios nos parques de Foz do Iguaçu, eu vi amor e vontade de viver. Na minha mente de desacreditado, acreditei que o amor que um tinha pelo outro podia ser a cura.

Voltamos a Colombo. Passado um tempo, a tia espalhafatosa veio a Colombo na casa do Primo, ambiente educado e abençoado. A tia espalhafatosa veio posar em minha casa e assim criamos nossa amizade colorida.

Os meses foram passando, não havia dado mais nenhum ataque na Princesa, ela estava curada pela maior força no mundo “o Amor” que é capaz até mesmo de afastar a morte, é energia viva, divina que precisa de duas almas fundidas se completando que tornam um único gigante chamado Amor e que sim é o mais lindo e também a mais difícil conquista em vida. 
Dois anos se passaram... 

A caminho da Ilha do Mel onde o primeiro beijo foi dado. Voltamos eu com uma nova garota no banco do passageiro do Chevette 77, olho no retrovisor o amor estava ali no banco de trás de mãos dadas e ele cantava essa musica a sua Amada .

 Musica/Letra/Tradução:You and I - Scorpions 
 
 24/03/2019