sábado, 18 de junho de 2016

Medo da Perda - SamBennett

 
(Meu relato sobre a tragédia da Boate Pulse em Orlando FL., na madrugada do domingo (12/06/2016).
 
É aterrorizante chegar num lugar a procura de um amigo que pede socorro e deparar com uma tragédia,  onde mães choram seus filhos, filhos choram seus pais, com uma dor vindo do fundo da alma, que nos abraçam como se pudéssemos devolver a vida deles, onde olham para uma porta, mesmo sabendo que dali não surgirá seu  filho e mesmo assim, ainda ter a esperança que de repente ele sairá vivo por ela e correrá para seus braços. 
Pessoas te pedindo ajuda. E você naquele lugar que mais "Parecia um campo de guerra", sem saber o que estava acontecendo, assistindo ao desespero de tanta gente que não sabiam o que fazer nem pra onde ir. Sentindo a vil  incompetência perante aquela cena chocante, vendo o quanto que a vida é frágil. Que do nada, numa fração de segundos, chega um louco e acaba com todos os sonhos de muitos pais e tantos filhos. Vendo mortes violentas e prematuras. Como não sentir medo? Não da morte em si... Mas da perda, do vácuo que se forma, daquele pedaço que foi levado sem dó nem piedade.
Hoje tenho medo da vida, da insignificância que ela nos coloca perante a ferocidade que ela ataca.
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Nunca me considerei medrosa, mas de uns tempos pra cá, esse medo passou a me assombrar. Medo da vida, pois diferente da ilusão infantil onde tudo era para sempre. Tive a convicção que a vida acaba.
Tenho medo de perder pessoas que amo. Um medo que me assusta só de pensar que de uma hora para outra, como num passe de mágica, não ás terei mais por perto, medo de acordar e encontrar aquele espaço vazio, sem nenhuma delonga, sem aviso prévio, sem me despedir, sem ao menos me preparar, e que  num piscar de olhos... Tudo acabou, já foi. Sem nunca saber mais nada desse nosso pedaço.

Quem disse que a sequência da vida não deveria ser quebrada e que o normal seria seguir a regra dos mais velhos para os mais novos, não tem noção do quanto isso não faz sentido. A perda de quem amamos é irreparável, não importa a sequência que ela aconteça. Ninguém esta preparado. 

 Tudo que chega ao fim dói. 
Perdas são feridas que não cicatrizam, é uma dor que ameniza com o tempo, mas nunca será curada.

A vida é imprevisível, injusta, não nos permite saber o que esperar dela e o caminho certo a seguir. Ela é implacável, não para nunca, não te dá oportunidade de pedir clemência e o seu veredito cruel é inevitável.

Hoje depois de tantos acontecimentos em minha vida, quero ter mais tempo.
Mais tempo para amar, mais tempo para me fazer presente mesmo que ausente, mais tempo para realizar meus sonhos, quero a presença de quem amo para ouvir seus conselhos, seus desabafos, suas broncas, ter mais tempo para dar e receber amor, muito amor e valorizar cada  segundo ao lado delas.

Hoje mais do que nunca não quero desperdiçar o único momento que tenho e que realmente é meu, que é o AGORA, em função de um momento inexistente que é o FUTURO. Quero deixar de pensar nas pessoas no amanhã, quero curtir elas HOJE, meus pais, a minha família, os meus amigos, o meu relacionamento, sem sofrer com a possibilidade de um dia não ser mais amada por eles.

É..., não estou preparada para perdas, mesmo sabendo que elas são inevitáveis.
Também não aceito que a vida me roube pessoas, sem que eu sequer tenha a chance de antes me doar a elas, fazer TUDO que devo fazer e mostrar que valeu a pena passar por essa tão injusta VIDA.

Texto escrito por Samantha Bennett
18/06/2016