Sempre gostei do diferente, daquilo que ninguém nota, da pessoa no
canto da festa, do olhar que se recusa a encarar, da pessoa que não
quer acreditar, daquele que vive no seu mundo, que não faz questão dos
outros. Sempre gostei de quem se basta por si, de quem não é
carente, não se desespera em busca do amor, não faz da vida uma busca
desenfreada por alma gêmea. Fazer o que, é o meu jeito. Eu sou assim. Em
um mundo onde tudo se tornou comum demais, procurar o diferente se
tornou minha missão e objetivo. Procuro o detalhe, o que passou
despercebido, o que ficou invisível aos olhos. Procuro a agulha no
palheiro, o raro, a exceção, o que está entrando
em extinção. Busca eterna, cansativa. Esse não, normal demais. Ah, esse? Só de olhar já o conheço por completo.
É engraçado que nós, pessoas observadoras, conseguimos saber tudo sobre
alguém que não conhecemos apenas observando suas atitudes. Pessoas que
fingem felicidade, pessoas que escondem sentimentos, pessoas que não
estão onde queriam estar, pessoas que não conseguem amar, pessoas que
não são quem queriam ser.
As únicas pessoas que nós observadores não conseguimos ler e decifrar,
são os
diferentes. Ou então, permita-me dar-lhes um nome que inventei,
pessoas abismo.
Por que pessoas abismo? Ora, porque não sabemos o que nos espera, mas a
vontade que temos é de se jogar de cabeça e torcer para que o
paraquedas funcione. As pessoas-abismo vivem em seu próprio mundo. São
introspectivas. Profundas. Elas também observam. E isso me intriga.
Por
que não posso saber mais sobre você? O que você esconde? O que pensa?
Já amou alguém? Qual o seu nome? Seu cheiro? De onde veio? Pra onde quer
ir? Me leva?
Pessoas abismo tem o poder de desnudar a alma apenas com o olhar. Um olhar que provoca. Um olhar que diz
"Ei, você é igual a mim! Vamos ser diferentes juntos!''. É o tipo de pessoa que você conhece num dia e já quer ficar ''pra sempre'' no outro.
Devemos ser mais exigentes, entende? Não se contentar com o pouco, ou com o normal.Temos que procurar aquilo que brilha, irradia, queima. Pois só assim
conseguiremos vivenciar a experiência que é o amor. Pois o amor não é
normal, calmo, e tranquilo.
O amor é profundo, misterioso, e causa um
frio desconfortável no estômago. Assim como um abismo.
No fundo, somos todos abismos a serem descobertos. Esperando por aquele,
único, que vai pular de ponta-cabeça sem medo de se machucar.
(Texto de Isabela Freitas)
29/03/2016