sábado, 6 de abril de 2019

O Bruto e o Herói - Rodrigo 'cC'

06/04/2019
 O Bruto e o Herói 
por Rodrigo 'cC'
Meu Paraná, ainda muito pequeno fui chamado de Polaco pelo meu Herói meu pai. Sua vida era na boleia do caminhão para todo lado desse Brasil, ficava agoniado quando  passava dias parado. Minha Mãe quando ele estava na estrada, ouvia e cantava as músicas sertanejas brasileiras nas fitas que ele a trazia de agrado e ele sempre trazia um mimo, uma fruta diferente, um artesanato de um lugar novo nesse gigante solo diverso brasileiro.
Meu Herói é caminhoneiro, um vivente da saudade senão de casa, da estrada, das cenas vista pelo para-brisa ou o pôr-do-sol ao retrovisor o quão a estrada é outra, a luz da lua rasgando horas na madruga, ao sol esquentar a estrada, dias meses, o ronco do escape, o grito da turbina na subida da serra, na troca contínua o cuidado com as vidas, o respeitar faixas, as descidas o pesado e bruto com um astuto na troca na caixa simples ou reduzida, às vezes de pé no assoalho, só a descida livre vem a banguela e logo a pós a subida na habilidade de quem sabe a marcha, entra e de novo o ronco do escape. No gritar das turbinas, os pássaros na mata, o sertanejo de mãos na enxada sabe que vai indo seu trabalho, sua lida, seu cultivo pra uma mesa brasileira, cortando as cidades. Esses roncos de escapes cortam bairros, cidades estados, países para levar o essencial à vida, seja noite, frio, calor ou dia em meio a tempestade sobre o para-brisa seja na dor, na saúde ou na alegria a estrada a liberdade de ser útil a vida de quem for, aonde chega seu remédio, sua comida.

Na boleia do Bruto eu no banco do passageiro, férias de julho ou de janeiro, era eu um Piá vivo, realizado ao lado de meu herói meu Pai. Nessas férias ia meu amigo o Vermelho com o herói dele quando já ansioso na boleia do caminhão esperando a hora que não passava nunca, vira a esquina o ronco do Bruto o festejo da buzina a ar, eu preso ao sorriso faceiro de Piá, minha Mãe feliz a me olhar, meu Herói a nos olhar com a saudade da estrada, da saudade dela de nome Flor, entre todas a mais bela. Um resgate de vida um amor nascido à beira da estrada por uma Goiana qual estava perdida judiada pela vida nascida à beira da pista, numa pobre e triste vida, entre o quase nada a comer e vestir seu próprio existir.

Já crescida ao olhar cruel do Patrão de seu padrasto qual queria o seu corpo de menina. Ela diz para sua mãe a qual queria mesmo é saber da pinga.  Então em desespero foge sem rumo pela estrada da vida. Passou um dia, dois...  Em casa sentiram sua falta e então, passou a persegui-la.
Meu Herói longe, a frente da estrada, quando vê um fusca parado e do nada olha ao lado e percebe uma Menina prestes a ser violentada, seu senso de justiça o instiga, ele para seu Bruto, pega sua espingarda calibre doze, com seu trinta e oito na cintura. Dá um tiro no Fusca. O homem se assusta, a Menina em ódio ataca-o e ele revida a derrubando com um soco. Ela levanta-se em fúria, quer destrui-lo. Meu Herói dispara mais um tiro no fusca, faz com que o homem se ajoelhe e deixa que a Menina solte sua fúria no homem, e assim ela fez sem dó. Meu Herói atira nos pneus do fusca, pega a Flor já cansada e perdida que aceita sua gentileza de tira-la dali e assim seguiram..  Ela contava sua historia triste de vida e meu Herói traz ela para o Paraná ainda Menina. Minha avó a acolhe em casa, meu Herói volta à sua vida na estrada em suas missões, onde não tem parada pelo dia, pela madrugada.

O tempo passou a Menina Flor cresceu desabrochou e assim como eu, o Herói é o mesmo e assim são seus olhos por ele que por mim, depois de mulher me entregou seu amor e essa historia me foi dita na mesa num café da manha enquanto numa rádio tocava a música por ela pedida por marcar seu momento de descobrimento do que o amor fez por dentro,
(Musica: Pé na Estrada- Sula Miranda) 
 e assim fui educado com a certeza de o porque na minha existência e muito me agrada ser fruto da verdade do amor. Agora eu aqui na boleia indo pelas estradas do Brasil à frente o Bruto do Herói do Vermelho, nós a brincar no PX, como se estivéssemos na boleia, mas nada mais era que a imaginação de um dia ser Herói nesse Brasil. Descreviam o que viam pela janela, retrovisor do passageiro e pelo belo cenário que vem do para-brisa, brincavam de dizer de como um dia vai ser seu Bruto e mais adiante vem o mais belo, uma carreta, um baú da Bepo com cavalos desenhados, a mais bela carreta e pra terminar por se encanta r,mais vem atrás outra carreta da Bepo com a imagem de Cristo,  assim se gravou uma das imagens mais lindas.
O sol se pondo... Hora da parada num posto à beira estrada, de janta o arroz carreteiro, o som do violão rasgando uma moda sertaneja, daquelas que parte o coração nas verdades, nas conversas da musica sertaneja Brasileira, de versos e poesias e de muita alegria, de casais no arrasta pé de norte a sul. Nas rádios, seja na boleia do bruto, sentado em uma varanda de casa, fazendo a comida ou até no trabalho, no passeio de carro, no leste ou apenas a apreciar as notas e palavras ditas, a descansar no oeste, mas agora de um outro lado da história meu Herói no prestar atenção ao Bruto, na estrada me pergunta se eu gosto de música, eu digo que sim, ele pergunta: -Tu tem uma que mais goste? Eu digo:- Não! Ele diz: - Eu tenho. Eu digo: - Deixa eu ouvir. Ele pede pra que eu pegue uma fita com um coração desenhado com caneta.  Assim fiz ,desliguei o PX,  quando fui colocar a fita, ele segurou minha mão e disse: -Essa música me da força me trás lágrimas aos olhos e todas as vezes que estou” meio sei lá”. Escuto ela e na lembrança o amor da minha Flor Goiana que trouxe ao mundo você meu fruto. - Agora coloca a fita!! -Em silêncio olhe o que o para-brisa tem a mostrar e sinta a música a qual faz teu Pai escorrer pelos olhos .
(Musica: Caminhoneiro – Chitãozinho e Xororó) 
 Eu olho na mão de meu Herói ao cambio, seu pé no acelerador com uma tatuagem escrita, a mesma mensagem da bandana do Bruto (- Andar com fé eu vou-) no meio do para-brisa um adesivo do rosto de Jesus Cristo com o cabelo cobrindo um lado do rosto, enquanto o outro lado do rosto retrata o sacrifício, um pouco de sangue no coração de Cristo.

Meu Herói diz de quão é sábio é o homem que se modela, lado a lado, de igual sua Amada e diz:- Minha Amada é uma Flor que precisa ser cuidada regada, que precisa de boas conversas, de alegrias e ser realizada na vida, para que ela te realize. - Tudo vem mais fácil do Amor, o mais difícil é fortificar esse Amor e isso é uma missão para dois, não adianta um estar a frente e o outro atrás, tem que ser na igualdade, tirar o melhor um do outro, senão for pra ter paz filho!! Abandona que é sofrimento certo e desperdício de vida, pode até ser que tenha outra vida, mas nessa pele é só essa. - Então cuida de você e de quem estiver em seu coração, ao seu lado. Eu no meu entender disse:- Pai gostei mais ainda do nome da Mãe FLOR combinar com Amor.- gostei ! Achei da hora.

Inicia-se a subida da serra, o motor do Bruto sob pressão, eu a olhar a bandana do caminhão do Herói do Vermelho que dizia, (Cuida de Mim Pai). Fiquei comovido, olhei ao retrovisor o escape soprando, a poeira na rotação contínua da marcha reduzida, a neblina começa tomar conta. No PX o Vermelho descrevia da gigante Lua, de uma estrela cadente e um pedido em grito Pai do Céu serei caminhoneiro, um brasileiro que aos seus olhos passa o tempo, cenas tão grandiosas  quanto essa Lua, essa Serra que ecoa a subida dos Brutos e reflete na bela pintura do ônibus, tão linda carrega a imagem de uma menina feliz. A Saudade de meu Herói de sua Heroína na foto carregada no painel dentro da Bíblia, do dizer na viagem ao seu Vermelho de saber viver apenas na liberdade da estrada, só em seu mundo em suas viagens com a certeza de tarefa cumprida a cada chegada ao seu segundo lar e ensinar ao vermelho o valor do Bruto que metade do que ganha é despesa de combustível e a outra metade é manter seu lar, seu imóvel e que seu amor e cuidado com seu lar móvel e Bruto é mais que preciso, pois aqui eu vivo e sobrevivo. -  Não é fácil, é difícil, mas eu amo o que faço e é assim... Quando tem amor se faz bem feito. - Tu não vês o pão e os biscoitos de sua Mãe na feira? -Também tem amor, só que de uma forma diferente, pois lhe afirmo pequeno Vermelho, sem o amor naqueles pães, naqueles biscoitos, eu não conseguiria sozinho vencer o dia a dia, vencer a vida. - Tu também és uma construção do amor lá atrás.

No outro Bruto já chegando a uma cidade, curioso o Polaco pergunta Pai: - Qual é desses homens à beira da estrada que acenam com a mão aos Brutos? Seu Herói responde: - São “Chapas”, pessoas que nos ajudam encontrar endereços e descarregar os Brutos. Eu entendi a importância deles e ao som do PX aparece o Vermelho cantando essa musica e
 ( Musica: Viajante Solitário Cezar e Paulinho )
os Brutos que se conectaram ao Vermelho no PX faziam sinais de luz e musica de buzina a ar. A viagem seguia ao anoitecer já parados em um posto. Hoje era Churrascaria! Pensa a alegria! Mas nem era da carne e sim a variedade de sobremesas. Sentamos gratos a boa viagem  dirigida por homens, mas guiada por Deus. Saímos da churrascaria fomos em direção a cozinha do Bruto, um chimarrão, conversas e de repente Heróis de todo lado desse Brasil, mesmos sotaques e jeitos diferentes, falando uma língua só, aprendendo um com o outro sobre cargas regionais, dando dicas sobre caminhos, outros lugares onde já foram, conversando sobre seus Brutos, contando suas historias, falando de sua cidade tatuada atrás do caminhão.
Naquele momento eu já sentia saudade de minha cama, percebi que eu apesar de brincar na cabine e gostar muito dos Brutos, não tinha o amor preciso e o brilho nas palavras do Vermelho, pois meu sonho ainda não tive, mas o dele era o mesmo do Pai.

Amanheceu, descarregamos me despedi do Vermelho, eles iam carregar mamão para o Sul e nós íamos procurar uma carga para voltar pra casa e na sorte e bênção de Deus vamos conseguir.
Já há muitos quilômetros rodados e nada. Um Bruto logo à frente parado, meu Herói para e o motorista relata que precisa chegar com a carga, mas seu Bruto não aguenta e eu tocado chamo meu Herói de canto e peço que leve a carga. Fiquei comovido ao ouvir o motorista relatar que, ou ele consertava o caminhão ou pagava a prestação. Assim meu Herói fez,  o motorista grato, meu Herói transferiu o valor da carga na conta do motorista e fomos.... Após de ser baldeada e enlonada a carga, levamos ao seu destino.
Eu sentindo muita saudade da Mãe, de jogar bola na rua, brincar de se esconder, fazer travessuras, mas levo a lição do valor da comida a mesa, de fato sei do suor do meu Herói que cantava essa musica cheia de emoção ao voltar para seu lar regar sua Flor..
( Música: Tocando em frente - Sergio Reis)