segunda-feira, 17 de julho de 2023

No Vale do Ribeira - Rodrigo 'cC'

 

No Vale do Ribeira 
-por Rodrigo 'cC' -

Ferida a faca abaixo do umbigo, é empurrada no mar, mas habilidosa a menina vai rumo à praia. Chegando na areia, olha em volta, assusta-se com esse novo mundo desconhecido. Ao olhar para o mar, vê o navio indo com o vento, ouve gritos vindo dele, gritos de medo, não pensa duas vezes, entra mata a dentro. Lá havia muitos pássaros, cores, flores e cheiros que ela não conhecia. Ali perdida, sozinha e assustada volta para a praia. Olha para o alto, avista uma montanha e sai caminhando em direção ao cume a procura de uma direção.
Já cansada, com a impressão de estar sendo seguida, com fome, ferida, sem conhecer as plantas da cura e as frutas ela deita e dorme..
Um jovem índio chega nela, depois de a ter a observado por dois dias seguidos, meio ressabiado, com seu andar mansinho, admirado com aquela menina de pele escura e cabelo diferente. Leva ela a um abrigo, cantando para que a alma dela não se canse enquanto cuidava da ferida, pois as ervas todas ele conhecia.

Passado um ciclo da lua, acorda a menina fraca, mas viva. Curiosa com aquela mão que sentia sem sequer tocar sua pele, a voz da canção que a protegia, numa língua que ela não conhecia, mas que tão bem a fazia.. Ao correr o olho ela vê na entrada da gruta, um jovem diferente com a pele pintada, penas na cabeça, quase despido, lhe dá um sorriso, se senta um pouquinho e chama ele pertinho. Ele sem entender o que ela dizia, afasta-se sentido a praia, ela deita-se ainda muito cansada, mas sem medo, pois sentiu que era protegida por um guerreiro...
Ao anoitecer vem correndo o índio assustado a pega no colo e vai sentido a montanha, ela sem entender o porque, mas entendendo que o instinto dele era protegê-la, pois na sua tribo no velho mundo também aprendeu a sentir o perigo e dar atenção ao sinal do bom e mal espírito chegando.
Ao cume da montanha como se por combinado, ele procura a direção do Vale das Cavernas onde era seguro e poderia  protegê-la..

Passado mais um ciclo da lua, os dois interagia como por instinto, tipo bichos, pois em palavras não se entendiam e isso foi lindo, os levou a ficarem quietos, em um tempo extinto onde o amor não era dito, era sentido. Onde a delicadeza e braveza do olhar era a palavra dita e o olho no olho também tocava a libido. O Vale era deles, qualquer hora e lugar era permitido. O amor era livre, eram muitos sorrisos soltos no ninho onde a parede era de pedra e tinha desenhos dos dois relatando isso..

O tempo passou, eles já envelhecidos e sem filhos.
Esse foi o mal que a faca fez a ela abaixo do umbigo.
Sempre viveram escondidos, pois era isso que os mantinham protegidos, era o silêncio sobre o amor, era a pureza no instinto, era o segredo nunca dito, pois na bênção do último dia do ciclo da grande lua ao apagar a chama na fogueira sob as duas almas encantadas, sem dor, sem sequer dizer uma só palavra, viveram e entenderam que a força do amor vem da alma..
 
17/06/2017

O Sem Futuro - Rodrigo 'cC'

 

O sem futuro!
-por Rodrigo 'cC'-

Piá atentado, crescido largado, nem ia para aula, ia caçar preá nos banhados em volta do alagado e no caminho ficava perigoso, com o estilingue no pescoço e habilidoso acertava passarinho até voando, parecia que estava no mundo a passeio, no céu a raia, no chão a bola. A tarde esconde e o tempo se ia... 
 
Em casa era só grito do pai. -Esse seu "piá do djanho" vai dar vagabundo! -Você que deixa ele assim, por mim mandava ele andar seu caminho!! 
E o piá arisco se tornando arredio, a mãe rezava, mas com o pai já não tinha valor sua palavra e o piá não o ouvia..

A vila tinha mudado, tinha chego uma droga bem "pirada" que se usava uma lata. E na rua ele cresceu, fazendo um bico aqui, outro e outro... Terreno para carpir ali já dava para o gole, o cigarro uns "troquinhos" para a mãe e o convívio social com o pai já não tinha, era visto como parasita. Seu irmão até a mesma profissão do pai tinha e se precisasse de alguma coisa nem pedia, o pai percebia, andava de barca no role da vila, fazia faculdade era uma alegria..

Enquanto o tempo passava apareceu uma menina em sua vida, que logo de pai o chamaria. No meio tempo ele percebia o que é ser responsável por uma vida e que de grana precisaria. 
Passando na casa de sua prima, envergonhado pediu para ela fazer um curriculum, pois não tinha o que fazer por ali, mas ela deu um jeitinho, arrumou para ele um trabalho... 
No primeiro dia no estoque um monte de códigos, caixas, ele todo perdido, mal escrever e ler sabia. 
Ninguém falava nada. Foi então que apareceu a menina educada, ele nada tímido foi interagindo, prestando atenção no jeitinho dela e o de dizer da entrada até a saída dos produtos. 
No outro dia mais que ligeiro, pois entrava primeiro, passou o olho naquela bagunça e a organizou certinho, do jeito que a menina educada tinha dito. Comprometido, primeiro emprego estava faceiro.... E assim foi indo com seu jeito malandro de sempre dando um jeito correto para tudo e captava muito fácil um possível problema, um mestre no raciocínio.

Passou o tempo... ele foi crescendo e com a menina educada aprendeu a mexer no computador. Ai pensa... quem segura aquela mente? Com sua planilha no Excel controlava mais que o sistema, ele sabia tudo, não perdia nada, tinha as respostas porque sabia que no trabalho ia valer o que fazia...

Agora no topo da hierarquia na melhor fase da vida, ele faz um passeio pela vida inteira, olhando seu pai ali deitado, sendo bem tratado com todos os recursos de um hospital avançado, pensando e seu irmão mais uma vez internado, na lata tinha viciado e sua mãe boazinha de cabeça branquinha sempre abençoando, é o amor de sua vida...

23/06/2017

domingo, 16 de julho de 2023

Gratidão - Rodrigo 'cC'

 

Aprendo a cada dia o valor da palavra GRATIDÃO,
 pois agradeço desde o ar, a água, o alimento fornecido pela mãe natureza até a permissão de Deus pai para que eu usufrua dessa vida do que a mãe natureza fornece para que essa vida seja possível.
Esse presente de Deus dado a cada um de nós deve ser agradecido, pois por mais fácil ou difícil que a vida seja, acredito que todos gostam de viver!!!
 

-Rodrigo'cC'-
10/09/2016 

A mais bela Cena - Rodrigo 'cC'

 

Largado no sofá,
na mão esquerda uma tela,
 a janela faz moldura,
 do piano vem o mais belo 
de todos os sons,
 tocado com amor 
pela minha amada, encantando.
De travesseiro meu filho 
a dizer os sentimentos
e sensações novas que vem sentindo
e na minha mente a cena intacta
pela mão direita retratada
 dizendo do simples
que faz eterno o momento..

Rodrigo ‘cC’
07/01/2018

Esse Som - Rodrigo 'cC'

 

 
Esse som 
que me faz anjo bom
ou irado protetor.
Esse som 
que entra na mente
e mexe na libido.
Esse som
que fala comigo no sonhar.
Esse som
que eu preciso 
quanto tudo está difícil.
Esse som
do seu amor que vem
no tom certo
em sua voz gostosa Pimentinha
que eu quero,
Em todos meus dias!

-Rodrigo 'cC-
04/01/2018 

Tua mão - Rodrigo 'cC'

 

Foi tua mão 
que segurou a minha, no primeiro dia 
num tempo onde tudo era proibido..
Foi tua mão que eu pedi perante Deus 
dizendo que a faria feliz..
Foram tuas mãos 
que fizeram as delícias,
que me fizeram forte no dias de lida..
Foi das tuas mãos 
que peguei pela primeira vez nossa filha..
Foram tuas mãos 
que me fizeram carícias nas horas de preguiça..
Foram tuas mãos 
que cuidaram de mim, quando eu parecia não ter vida..
Foram tuas mãos unidas com toda fé no coração 
e a oração mais forte, que me agarrou 
e hoje estou aqui velho, minha velha 
porque nossa vida foi de mãos dadas..

Por Rodrigo 'cC' 
21/01/2018 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O Anjo de Neandertal!! - Rodrigo 'cC'

 

O Anjo de Neandertal!!
Meu nome é Nháá. A terra aos meus olhos é muito gelada, os animais a minha volta são grandes inofensivos e perigosos. Os meus são poucos, uns vinte, todos brutos, com dialeto próprio. Vivíamos do que tínhamos a nossa volta, não íamos longe da caverna, os homens ocupavam-se da caça, da proteção das mulheres, da arte, das roupas, das ervas, dos alimentos. Muitas em si tinham talentos, curiosas viam e já aprendiam,  os meninos sempre arteiros e as meninas no pensamento, cautelosas com o medo, no controle o cuidado com a vida..

A mãe da mãe conhecia tudo a nossa volta, ela que mostrava a todas as crianças o que pode e não pode. O pai do pai sabia tudo, dava nome a tudo e contava do pai do pai dele, das feras de como fazer e para que servem o seu tempo de vida, faz da sua palavra o respeito bem dito. Também  bravo se preciso, se não.. é todo mansinho. Tinha um menino que se apegou a bater os ossos no tronco ao lado de uma menina que a voz linda tinha..

Eu gostava de ficar sozinha, era muito curiosa e destemida, meus olhos me guiavam, eu me encantava, olhava tudo de perto, cada ser, cada forma de vida, eu tocava meu irmão sempre protetor de perto só me observando, por muitas sua energia do medo o colocava em risco, pois a fera que caça sente a energia do medo, mas ele era ligeiro nas árvores, tinha apreço, andava mais nelas que no chão mesmo. A mãe da mãe dizia que nós no mesmo dia da lua descíamos a vida..

Já se arriscando longe, eu e meu irmão Gudáá percebemos os peludos que cantavam auuu a lua e o arteiro mais que ligeiro pegou dois e pelas árvores fugiu com eles. Ao chegarmos a caverna, o pai do pai surpreso, de sorriso no rosto, apegou –se  na bagunça que faziam as criaturas peludas que cantavam a lua a qual a mãe da mãe dizia que nós vínhamos e aqueles peludos viraram alegria, todos na caverna com eles riam, mas era meu irmão que eles seguia, aquele apego de pureza fazia dele seu líder nas caçadas.
Agora com os peludos grandes ficou fácil. Meu irmão e o menino da lança faziam a tocaia e os peludos levavam a caça a eles. O pai do pai mandou passar a história à frente aos filhos dos filhos. Na parede da caverna a mulher de bons olhos desenhou mais uma historia que contava dos nossos e todos em sorrisos faceiros e orgulhosos.

Em uma aventura mais longe do que de costume eu ao chão com os peludos andando tranquilos, sinto Gudáá com muito medo assustado, mais que rápido vou até ele e vejo a pior das cenas, uns parecidos com nós, mas tão diferentes, matavam por matar outros como nós. Eu revoltada com aquilo, pois nós éramos puros interagíamos com a Mãe Natureza, tirávamos a vida pela sobrevivência na pureza, do ciclo natural para o equilíbrio da vida, lutávamos pra viver onde era difícil, pois o caçador também era caça, também fazíamos parte do equilíbrio..

A mãe da mãe dizia que do céu nós vínhamos e para lá voltaríamos descansar para a próxima vida. Mas esse povo tinha uma energia ruim e ao observar esse povo parecido mas diferente de energia ruim se afastar sentido contrario ao nosso, ouço um choro, chego perto, uma pequena igual nós pego-a no colo, pois era a única ainda viva e vou em direção a caverna pensando de como faria pra ter uma pequena, pois nem leite tinha e a pequena não tinha idade de desmamar. Quando Gudáá aponta ao campo e eu vejo uma vida do campo amamentando, mais que ligeiro Gudáá e os peludos a cerca e a levamos pra caverna,  pro leite da pequena Poaa, olhos cor de folha. Chegando na caverna fui ao pai do pai e a mãe da mãe dizer do que tinha visto o pai do pai mais que arisco nos põe em alerta, pois no passado já tinha sido falado dos iguais, mais diferentes, pois traziam perigos, pois dentro de si carregavam a luz e a escuridão..

O tempo foi passando tempo de gelo onde é muito arriscado, tempo de pasto os predadores não nos caça, é muita fartura, flores, pássaros cantando, muitos frutos.
A Poaa crescendo, correndo, tagarelando seu tom rouco. Eu nem idade de mãe eu tinha e já era minha responsabilidade a vida da Poaa de olhos cor de folha que encantada com a diversidade da diferença daquele imenso branco, onde até o coelho que seus olhos namora era branco. Agora ele escondido entre a moita lhe digo sobre o quão perfeita é a criação. Veja Poaa que lindo o coelhinho! Tão pequenino, brincalhão e rápido em sua defesa e de tamanha grandeza o criador em seu equilíbrio o fez assim, tão reprodutivo, alimentando-se do simples matinho, mas de tamanha nobreza, alimenta muitos na natureza ,desde os que voam no céu àqueles que caça sorrateiro se arrastando no chão ao silencioso que passa na noite. Por isso nascem tantos e te digo minha pequena, longe da mãe poucos ainda continuam vivos. A Nháá te diz: - Nunca fique longe da caverna quando a Nháá sai, fica aqui com a mãe da mãe, assim estará protegida.

A Poaa já crescida anda de lá para cá com Gudáá ,os peludos e sua Nháá ligada em cores e eles explorando longe veem a frente uma fruteira carregada. Chama a Nháá e Gudáá os pede que se sentem e em silencio fiquem que ela vai lhes falar de como aquela arvore é o mundo e que nós somos os frutos e que nem todos os frutos dão frutos, pois tem pássaros que se alimentam das frutas e plantam as sementes. Tem pássaros que se alimentam das sementes e as que os pássaros não comem, vão ao chão e ali tem os roedores de sementes e roedores plantadores de sementes, mesmo que uma árvore tenha muitos e muitos frutos, bem poucos vão dar frutos e assim é a vida. Muito poucos entendem a vida,  muito poucos vão dar frutos.
 Nháá diz:... que não me trouxe da Lua, mas que me da sua vida. Eu sinto gostoso dentro assim que olho pra você minha Nháá por me permitir ainda ter em mim o sopro da vida, não me deixando pra ser aquela semente que deixou de existir e nunca mais dará fruto. -.. Gudáá eu sou  gostosa aqui por dentro em sentir a maldade ao ponto de fazer parte de tudo isso. -Olha que lindo aquele pequeno colorido na flor, o tamanho do gigantesco se alimentando no campo,  no céu o pássaro temido tudo perfeito,  aos olhos tem tudo que é preciso, todas as formas por tão diferentes e precisas pra um novo acordar e de novo olhar e ver que hoje estou no mesmo lugar que ontem, mas é diferente até que um dia não tem mais acordar, não veremos mais nada, se descansado a nossa luz vai a Lua, temos outra chance, se viramos a caça servimos ao ciclo natural da terra acaba aqui..

(Por Rodrigo 'cC')
21/04/2018
Tradução: Live is Life - Opus