Mil setecentos e vinte, mata atlântica um rancho dentro de um vale à
beira de um lago, longe da civilização. Pinheiros gigantes, figueiras
majestosas muitos sons da natureza, bugios, pássaros diversos, a noite corujas,
sapos, urro de onça. Lugar de muita paz, um ar gostoso, apenas um carreiro
antigo entre árvores que acabava na
porta do rancho rústico de madeira, chão batido, fogão de barro, muita
simplicidade, um lugar de muita cerração, pouco se via entre as árvores.
Eu era criança ainda inocente, era tímido conversava comigo mesmo.
Eu era filho único, o vizinho mais próximo era meio dia de
caminhada, acabei me criando tipo bicho, não conhecia muitas palavras, havia
pouca conversa em casa. Meu pai ocupava-se
da pequena plantação, não tinha criação,
pois as onças sempre matavam. Nossa carne era caça e pesca frutas nativas. Não
faltava alimento.
Eu tinha dois cachorros amigos, até eles dormiam dentro de
casa. Sempre que algo chegava perto da casa eles ficavam quietos só
acompanhando com os olhos a direção que ia o que havia lá fora. Eu sentia o
medo neles, meus pais diziam que era a onça. Eu nem fazia ideia do que era uma
onça, só sabia que todos tinham medo. Meu pai sempre de facão na cintura,
espingarda do lado, faca na cintura. À noite ninguém saia, pra fora não se enxergava
nada, apenas se ouvia a música da noite feita pelos sons distintos, uns bons
outros horripilantes.
No dia era tranquilo eu gostava de explorar a mata, adorava
subir nos morros mais altos e subir na árvore mais alta só pra ver a imensidão.
E de poucas palavras não era um pensador, não tinha conhecimento, só olhava,
era meio bicho.
Uma noite algo diferente aconteceu, os cachorros não
estavam com medo, eles acompanhavam algo que contornava o rancho pelo lado de
fora do rancho, com uma alegria que eu tinha visto apenas comigo. Senti meu corpo arrepiar, meu pai de espingarda na
mão pergunta quem é, pois não era a onça, seu cheiro era forte, eu conhecia. Meu
pai, já meteu fogo na direção que os cachorros iam. Aí veio o silêncio, os
cachorros deitaram um na porta e outro no pé da cama como de costume. Meu pai
disse: Não deve ser nada. Eu acreditei, pois meu pai tudo sabia, minha mãe de
poucas palavras, mas de muita fé em Deus. Sempre agradecendo por mais uma
refeição, mais um dia de vida. Ela dizia que Deus era o criador da terra e do céu, eu ficava imaginando que incrível esse Deus.
No dia seguinte, precisei ir ao vizinho trocar carne de caça por pólvora
e sal e lá vai eu os cachorros do lado. Tudo certo, mas naquela desviada de
caminho pra pular na cachoeira era uma alegria, os cachorros pulavam e nadavam
comigo. Em um desses pulos quando eu abro os olhos dentro da água, vi algo me
olhando... O desespero bateu, sai da
água com medo, me vesti chamei os
cachorros voltei ao carreiro. Comecei a subir a serra, ainda tinha horas de
caminhada. Um carreiro entre as árvores uma parte no peral, muitas pedras lisas.
De repente os cachorros olhavam pra mata com uma alegria davam umas rodeadas, balançavam o rabo felizes e eu
ali só observando atento, preparado pra me defender, eu percebi que algo se
movimentava, mas toda vez que chegava
perto... Nada!
Continuei....
Já tarde cheguei ao vizinho, fiz a troca combinada sem dizer
uma palavra e fiquei olhando calado, tímido. Bem dizer só falava mãe, pai e tá
bom. Mal conhecia as coisas por nome, nem meus cachorros tinham nome. Eu era
muito primitivo, pela janela muitos adultos, crianças falando, falando e eu apaixonado pelo sons diversos que
faziam. De repente um tapa na nuca. O vizinho disse: - Vai pra casa bicho do mato!!!
Eu mais que rápido fui. A vizinha disse: - Venha se alimentar. Eu não quis
mesmo estando com vontade, eu nunca tinha visto tanta comida em uma mesa. Minha mãe
disse pra nunca aceitar nada de estranhos e fora minha mãe e meu pai tudo e
todos eram estranhos. Eles eram tudo que eu sabia, eles eram sagrados, meu
mundo, meus anjos meus guias.
Saí rápido em direção ao carreiro que ia até o rancho onde
eu morava. Os cachorros comigo, precisava andar rápido pra chegar antes da
noite chegar. Tinha a tal da onça que eu nem conhecia, mas temia. Continuei andando rápido, os
cachorros de novo feliz, olhando algo
que eu sabia que estava ali, mas não via e segui em frente tranquilo. Chegando no
alto do vale antes de descer o peral, sentei, ali fiquei admirando a beleza,
imaginando de como será esse Deus que fez esse paraíso. Na minha cabeça Ele
tinha plantado árvore por árvore, tinha feito os rios e lagos na enxada, então
esperou chover para encher. Eu era muito primitivo, ficava admirado com o sol e
a lua no céu. --Como pode??-- Se eu solto uma goiaba ela cai!! Isso que eu nem imaginava como era gerada a
vida, eu era muito inocente.
Então continuei descendo, era perigoso, pedras soltas, água escorria pelo peral, os cachorros desciam
sem nem ver o perigo. De repente caí em uma pedra lisa fui peral abaixo. Na
hora que vi a chance, me joguei em direção a uma árvore, dei meu jeito, me
agarrei. Os cachorros já estavam lá embaixo no peral me esperando. Eu os chamei
e voltei a subir pro carreiro. Onde eu estava não dava pra descer, foi difícil!
Mas subi e isso atrasou a volta. Eu não iria chegar antes de anoitecer, meu pai,
meu guia já havia me dito que se um dia isso acontecesse, era para dormir numa árvore mais difícil de subir e era o
que eu faria. Andei até chegar o mais perto possível, subi com o bocó o qual carregava a troca. Voltei,
amarrei os cachorros em mim e subi no pinheiro mais alto que vi e lá fiquei admirado com a noite, a lua, as estrelas,
tudo tão lindo. De repente vem uma luz em minha direção, os cachorros quase nos
derrubando, eu agarrado fui adormecendo, uma sensação boa, meu corpo arrepiado.
Quando olhei a frente, vejo algo vindo em minha direção. Era como se fizesse parte do
ambiente, seu corpo disfarçava-se entre
os galhos da árvore. Acordo de dia já no chão, espantado!! Como não acordei ao cair? Os cachorros a
minha volta, a troca intacta.
Voltei pro rancho. Voltei aos meus dias, mas agora sem medo da
noite, a frequência desse algo que se misturava ao ambiente já era o tempo todo,
nos passeios, pescarias e caçadas. Um acostumado com o outro. Ele começou a vir
à noite, eu já o via como era sem disfarce. Começamos a nos comunicar pela
mente, era uma transferência de pensamento. Ele conversava com os cachorros,
árvores se movimentavam o saudando, flores se abriam, ele se alimentava de
peixe, podia respirar na água e o ar na terra e na água só era possível ver ele quando ele queria. Brincávamos, até a onça
não oferecia perigo, me mostrava em imagens que se criavam dentro da minha
mente, cenas contando a importância de manter a terra pura.
Eu perguntei se ele conhecia Deus. Ele me disse que é um só
criador de tudo, que Ele está em tudo, nas árvores, no ar, na terra, na flor,
no fruto, em você, em mim. Disse que Deus está vivo, no equilíbrio, é visto na
pureza, na simplicidade do olhar. Disse que existe vida fora da terra, pois
assim como os animais podem ter mais de um filho. Deus também disse que o homem
há muito anda na terra e o que o fez viver de uma forma diferente dos outros,
foi o pensamento deixando de ser primitivo e que muitas e muitas luas atrás,
outra forma de vida de muito longe vinda, deixou suas obras na terra e uma foi
espalhar o pensamento pelos quatro cantos da terra, disse também que um dia o homem
saberia que o maior inimigo da vida e que os maiores segredos do povo que aqui
andou está embaixo de todo gelo. Eu via as cenas, pois nossa conversa era no
pensamento e as cenas se tornavam vivas.
Admirado com as
mudanças da terra, do homem. A natureza ressurgia se regenera, era pós era e
agora o homem é o seu maior inimigo, está preso às dúvidas sobre si. A vida
perdeu sua pureza deixando de ser primitivo, viver em harmonia, de ver a vida
como todos os outros que aqui habita e isso é o fim, pois a terra é sagrada,
todas as vidas estão ligadas em um equilíbrio e acabar com a pureza da vida
divide os homens gerando todo e qualquer mal. A terra é de todos, é perfeita,
não precisa da evolução, a natureza se regenera, os animais, os campos, as
florestas os acompanham na mudança natural da terra e na água o equilíbrio é
perfeito. E ao ir no pensamento a uma
terra antiga, percebi que nos mares e na terra havia mais harmonia, os animais
não tinham medo da superfície e na terra os animais não fugiam. Vi homens
maiores com um pouco mais de pelos e mais claro, outros menores e mais pelados e
um pouco mais escuros. Vi alguns grupos que parecia uma mistura nem escuros nem
claros, nem pequenos nem altos, de cabelo escorrido. Vi animais que jamais
imaginei que existiram.
Vi que Deus é o equilíbrio, não bom, não ruim, apenas
justo. Até na morte natural, aceita por ele pois um morre para que outros
sobrevivam, assim se completa o ciclo. Essa ordem natural é a paz o equilíbrio
e que o pecado e o mal vieram com o pensamento e pensar no que não se explica
gera divisão e a divisão gera briga e briga gera guerra e guerra gera
destruição e a destruição é o fim..
(por Rodrigo 'cC")
25/01/2018
25/01/2018
Musica composta/cantada por Eddie Vedder
Uma critica a dependência das pessoas da sociedade, e consequentemente do materialismo.
Uma critica a dependência das pessoas da sociedade, e consequentemente do materialismo.